Fim de ano foi tempo de rastrear em sebos, volumes antigos de ficção científica, sempre impressionada com o número pequeno de títulos disponíveis (será que, agora, essa vertente é considerada simplesmente "fantasia"? É uma hipótese, porque não concebo que os escritores simplesmente tenham abandonado a tendência, justo agora que começamos a explorar novos planetas!)
PLANETA DUPLO, de Jack Vance, é mais um livro de ficção científica das décadas 70/90. (leio em português, traução de Mário Molina, na edição de 1979, coleção Mundos da Ficção Científica da Livraria Francisco Alves Editora).
Ainda que ambientado em planetas alienígenas, a história lembra bastante as epopéias celtas: povos diferentes que disputam um terrritório relativamente pequeno, sociedades que estão a meio caminho entre um feudo medieval e pequenas cidades, títulos honoríficos e o orgulho de classe.
A história é interessante, mas o estilo de escrita é confuso.
O texto tem várias notas de rodapé e um glossário ao final, para inserir detalhes sobre o mundo imaginário alienígena. Mesmo assim, na leitura, ficou mais fácil imaginar as planícies irlandesas do quê um planeta alienígena. Então... lá no escritório, temos o ditado que diz que o difícil é fazer, porque criticar o que está feito é sempre mais fácil. Neste limite, penso que as descrições do planeta e de suas excentricidades melhor estariam inclusas no próprio texto. E no mesmo raciocínio, como ainda estou lendo contos do mesmo período, pensei se o autor não se sentiu limitado para escrever uma história longa, quando o fazia dentro de uma tendência literária onde o usual são os contos relativamente curtos. Porque num texto sintético, a mistura com um pouco de épico, um tanto de fantasia e uma pitada de romance, deixou o texto q-u-a-s-e parecendo mais um roteiro do que um romance de ficção científica.
Mas, críticas à parte, a verdade é que li a história inteira, sem cansaço, e gostei o bastante para trazer até o blog em resenha. Um texto gostoso, um personagem principal orgulhoso, mas inteligente, daqueles que enfrenta os problemas que ele mesmo cria, fazendo seu próprio destino. É assim que encontra, quase que por acaso, o vilão da história. O resultado é uma trama curiosa, onde os personagens agem de acordo com interesses próprios, mas acabam representando o "bem versus o mal" pelo impacto que tais decisões possuem em detrimento "da população", ou seja, aquele todo indistinto de pessoas/personagens que apenas existem, quase pano de fundo, na história.
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