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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

EUNUCOS PELO REINO DE DEUS, de Uta Ranke - Heinemann

Amanhã, quinta feira dia 28 de fevereiro de 2013, o Papa oficializa sua renúncia, a primeira em seiscentos anos, em meio a uma sucessão de escandalosas denúncias de abusos sexuais, pedofilia e corrupção que chegaram à mídia de todo o mundo cristão. Segundo as profecias de Malaquias, tempos difíceis aguardam pelo próximo (e último?) Papa, à Magna Igreja que já teve tanto poder, e tribulações para toda a humanidade. Novos tempos, novas profecias, novas realidades.

Por isso, não poderia deixar de lembrar do mais bem documentado livro que já li sobre a sexualidade vista pela Igreja Católica, sobre como a opinião deste ou daquele catedrático religioso medieval em escritos dos mosteiros esquecidos no tempo, mas radicais em seus preconceitos, moldariam por séculos o destino de milhões de pessoas, mergulhando o mundo ocidental nas trevas do fanatismo.

O livro que tenho, é antigo.
As informações bibliográficas informam que o original é de 1988. Meu volume é a 3ª edição brasileira (pela editora Rosa dos Tempos, tradução de Paulo Fróes), não encontrei o ano de impressão, mas eu o ganhei em 1996.

Uta Ranke-Heinemann foi considerada uma das maiores teólogas do mundo, e dispôs de tempo, recursos e acesso a uma coleção de documentos, teses e estudos medievais, aos quais nós - pobre mortais! -, jamais saberíamos a existência, não fosse por este livro.

Ao publicar EUNUCOS PELO REINO DE DEUS, Uta Ranke-Heinemann perdeu sua Cátedra na Universidade de Heidenberg. Lendo o livro, não é difícil entender o porquê. Fortemente documentada, ela analisa desde as raízes pagãs do pessimismo sexual cristão, passando pelos teólogos pré e pós Agostinho, um capítulo inteiro sobre a evolução do celibato com seu medo e da supressão das mulheres entre celibatários, a formação do conceito do "sexo sem pecado", feiticeiras, Lutero, a moralidade jesuítica, terminando com os temas da modernidade: o controle da natalidade, o aborto, o onanismo, a homossexualidade, e a teologia moral do século XX.

Mas ao contrário do que se possa imaginar, o livro não induz a nenhum tipo de "teoria conspiratória", nem faz descrer em qualquer fé que porventura se possua. Uta Ranke-Heinemann traça uma cronologia perfeita, desde a origem pagã até os conceitos da modernidade. E em cada período, destaca como e quando cada idéia se tornou falsa, não por falta de fundamentos, mas pelo radicalismo de alguma interpretação.

Ao ler o livro, não ficamos com raiva de ninguém, de nenhuma instituição. Mas somos obrigados a pensar porque, de forma tão persistente e até hoje, associamos a idéia de perfeição como algo antinatural, e como isso deixa cada um de nós, vulneráveis a acreditar em bobagens ditas com persuasão. (Como dizem os psicólogos, o grande problema com os paranóicos, é que sempre tem uma dúzia de neuróticos que acredita...).

Como sociedade, podemos até alardear que em tempos modernos, superamos (em parte) tabus da sexualidade, aqueles tratados neste livro. Mas vamos pensar melhor: já abandonamos a idéia de que a perfeição é antinatural? Que é melhor andar de carro, ao invés de caminhar? Ou prolongar artificialmente a vida, ao invés de morrer com dignidade? Quem teria a ousadia de criticar o ícone da modernidade, shopping centers onde a luz natural nunca entra, onde o ar é fornecido por máquinas, onde nenhuma planta cresce e nenhum animal poderia viver?

Mas tornando desejável e idealizado aquilo que não é natural, é necessário reprimir e impor sobre a maioria, o radicalismo de poucos. Todos sabemos que a depravação é consequência lógica da repressão. E não faz diferença se a repressão é justificada em nome de "deus", da "ciência" ou "da maioria". Na natureza (e não somos todos, animais da natureza?) não há justiça, há consequências. Não há leis, há causa e efeito. Não há "o melhor", há o necessário. Não existe maioria, existe diversidade. Porque é tão difícil aprender que não existem linhas retas na natureza?

EUNUCOS PELO REINO DE DEUS, um livro que abalou a igreja, um trabalho respeitado graças à erudição de sua autora e o incrível levantamento de dados documentais. Polêmico, profundo e inesquecível.  E que venha o novo Papa.


Com a contribuição de um leitor (vide comentários abaixo), existe uma disponibilização por internet em:
https://docs.google.com/file/d/0B5zRugIt6DkLd2VyTGxieHptT1k/edit?pli=1


Também encontrei um trecho do livro disponibilizado em
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=4&ved=0CEUQFjAD&url=http%3A%2F%2Fxa.yimg.com%2Fkq%2Fgroups%2F23482202%2F870775515%2Fname%2FRANKE-HEINEMANN_raizes%2Bpagas%2Bdo%2Bpessimismo%2Bsexual.pdf&ei=Iq9NUsjsL4zxrAGQuIFo&usg=AFQjCNF9NIJgp9do4sbwr7PWEqHM12s4oA&sig2=9ExdKGcie-rmg-XK6BSBBg&bvm=bv.53537100,d.eWU
(Acesso em 03/10/2013 às 15:00 hs)










AS MULHERES FRANCESAS NÃO ENGORDAM, de Mireille Guiliano

Fiquei na dúvida: coloco como título "MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA", ou como livro prá comentar?
Bom... fica como livro.
Mas desta feita, bem podia ser crônica do "Manual"!



Março tá chegando, daqui a pouco começa a pós, e não tem jeito: vou ter que fazer uma dietinha básica, devolver aqueles quilinhos a mais que a preguiça e festas de fim de ano deixaram comigo ali junto com os presentes.


Mas tem seu lado bom: no quesito "dietas", fiz da minha vida adulta uma persistente experiência.

Sabe, sou filha temporã, nascida quando minha mãe já completava seus 40 anos. E ela contava que, nesta época de maturidade, gravidez tardia & coisa & tal, engordou lá uns quatro ou cinco quilos acima do peso que considerava ideal, e não conseguia perdê-los, de forma alguma. Foi quando decidiu aderir a uma dieta, que na época era um modismo caro e chique, através e com acompanhamento de um médico de renome na cidade, e que prescrevia (os hoje famosos) medicamentos "tarja preta". Como prometido, mamãe emagreceu rápido, ficou alguns meses no peso ideal... e então engordou tudo de novo e mais um pouco. Mas ela não desistiu: retornou no médico, fez novamente dieta (cara), emagreceu... e alguns meses depois do tratamento, já estava engordando, tudo, de novo e mais um pouco. Nunca mais livrou-se do efeito sanfona, a dada altura desistiu das dietas caras, tentou reeducação alimentar e mais uma dúzia de opiniões, até que cansou da batalha e aceitou um corpo obeso. Na esteira da família, história similar, veio minha irmã mais velha. Três gestações, e então a história se repetia, também ela uns quatro ou cinco quilos acima do peso, a mesma fé na palavra dos médicos, a mesma dieta com prescrição "tarja preta". Também ela emagreceu rápido sob efeito da medicação, e terminado o tratamento, engordou o que havia perdido e outro tanto a mais, e a novela se repetiu.
Passei infância e adolescência assistindo às dietas e aos remédios, primeiro minha mãe, depois minha irmã. Quando me tornei adulta, já existia a mística na família de que "temos tendência à obesidade". Nunca confrontei ou discuti a opinião delas, mas em silêncio desconfiava mais da tal prescrição médica, do quê acreditava em uma explicação "genética". E decidi que, com quilos a mais ou a menos, o tal remédio "tarja preta", eu não iria tomar. Não encontrei (na verdade, pouco procurei) pesquisas que indicassem a possibilidade do aumento da obesidade como consequência dos remédios que prometiam combatê-la, mas mantive a desconfiança.

Também eu, no passar dos anos, engordei (e emagreci) os tais "quatro ou seis quilos", igualzinho ao restante da família. Motivos prá engordar nunca faltam: gestação, stress, tédio, problemas cotidianos, contas que não fecham... qualquer coisa pode detonar o prazer supremo de afogar frustrações na comida. E quando menos espero, o espelho denuncia a calça justa e a blusa torta, e pareço cansada nas mesmas atividades, como se carregasse pesos nos pés. Mas nunca tomei a tal "tarja preta". Coincidência ou não, também nunca engordei além desta média.

Foi numa época destas que encontrei a reeducação alimentar que funcionou comigo, sugerida pelo livro AS MULHERES FRANCESAS NÃO ENGORDAM, da Mireille Guiliano.

A edição brasileira (pela Editora Campus) é de 2005, e eu o comprei ainda lançamento. Gosto dele porque... bem... não é uma "dieta", e sim uma imersão em outra cultura. Não diz o quê fazer, mas "como" fazer, partindo sempre do pressuposto que mais amo na vida: EQUILÍBRIO. A verdade é que desconfio de qualquer dieta que procure "culpados", que exclua uma classe de alimentos enquanto venera outra. Ou que supervalorize somente a alimentação, quando eu sei bem que os sentimentos também pesam na balança. Ou que só compute válidos os exercícios feitos em academias pagas, desprezando as escadas dos prédios, as calçadas das ruas e a faxina de casa que estão aí prontas para ajudar, e de graça!

Já li duas vezes, o livro da Mireille. Depois, eu o guardei na estante, por anos. Tanto tempo, que já esqueci parte do que li, o que é muito bom, pois agora posso ler de novo, assim como se fosse a primeira leitura de um livro indicado por alguém. Mas algumas de suas colocações, nunca esqueci, porque parecem sirenes anunciando que estou traçando o caminho do exagero.

Há uma passagem do livro, em que ela compara americanas versus francesas, afirmando que as americanas comem muito de poucas coisas, enquanto as francesas comem pouco de muitas coisas. Essa observação foi uma luz! Não sei sobre americanas ou francesas, mas olhando prá mim mesma, não é que ela tem razão? Observei que quando estou cansada/entediada/endividada ou outro "ada" ruim, fico com preguiça de cozinhar. Então, começo a repetir os mesmos pratos, mais das vezes reduzo até para uma única opção, que se repete e repete em várias refeições. E na mesma proporção em que cozinho o mesmo tipo de refeição por duas, três, cinco ou dez vezes seguidas, também preparo porções que vão aumentando de tamanho, devagarinho, um circulo vicioso: a tensão cotidiana transformando-se em preguiça de cozinhar, que se transforma em porções cada vez maiores da mesma comida, com os mesmos temperos e o mesmo preparo, tudo virando rotina e instalando um tédio alimentar que só faz engordar.

O livro quase não traz receitas, nada de contagem de calorias, diagramas ou qualquer outro sistema chato e cansativo. Ao contrário: ensina prazeres, incentiva que se cozinhe a própria comida pesquisando temperos frescos, frutas da estação, iogurtes feitos em casa, sabores, texturas, perfumes. O lema poderia ser sumarizado: reduzir porções e aumentar sabor. Degustar com prazer, ao invés de engolir sem pensar. Não abrir mão de nada, não exagerar em coisa alguma, não se empanturrar jamais.
Nada de pensar em fazer dieta, como quem se auto-flagela, um "castigo" porque comeu demais.
Dá prá pensar diferente, como uma imersão em elegância, equilíbrio e sofisticação, e tudo fica "trés chic"!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SÉCULO XXI

... onze e meia da noite, já escrevi um pouco sobre meus quadrinhos favoritos, mas o sono ainda não chegou. O silêncio é total, agora. Não há um carro passando na rua, um vizinho falando alto, um rádio ou televisão que consiga ouvir daqui. O guarda noturno passou, apitando ao longe. Boa noite, eu também estou acordada, sabia? Mas até os cachorros já dormem, esqueceram de mim. A cama está pronta, a luz acesa, mas perduro um pouco mais esse momento. 

Eu gosto do silêncio. Sempre gostei. Parece que me encontro nesse vazio de ruídos, como se o tempo parasse para me deixar ouvir sensações. Na madrugada, não há relógios computando o tempo, e o amanhã ainda não me pertence. A noite é feita de fantasia, de livros ainda não lidos, de telas brancas à espera de uma idéia, dos trabalhos inacabados aguardando completude.

De tempos em tempos, tiro prá mim uma noite de insônia. Funciona como uma desintoxicação de pensamentos, escrevo & escrevo & escrevo sem qualquer propósito, apenas para que todas as coisas que ficaram trancadas e incomodam, tenham voz e possam sair. Como olhar o próprio poço para dar nome aos demônios, entende? Vou coletando sentimentos, aquele momento de raiva que engoli e no lugar do palavrão, sorri. Monalisa, educada. Aquela frustração pequena, tão insignificante que não dei qualquer valor, mas que permaneceu no mesmo lugar, como uma erva daninha que se recusa a morrer e contra todas as probabilidades, cresce. As idéias bacanas e acumuladas à espera de um tempo vago para ser realizadas, e que serão simplesmente esquecidas se, pelo menos, eu não as anotar. A opinião guardada, porque inconveniente. A recusa em aceitar a vida como ela é, porque sei que poderia ser tanto mais.

O silêncio é como uma mãe que guarda segredos, uma deusa que não se revela.


Quadrinhos eróticos de MANARA

Prá terminar a série "histórias em quadrinhos", não poderia deixar de nominar MANARA.

Descobri por acaso... Estava passeando pelo sebo, pleno domingo de manhã, tentando achar algo interessante para ler. Rodei prateleiras até cansar, mas nenhum livro "bateu" nos olhos, com aquela ansiedade "não posso viver mais um dia se não ler isso hoje!".

Foi quando vi o volume EL GAUCHO, com um desenho lindo de Manara na capa (texto de Pratt). Dei uma folheada, e fiquei encantada com os desenhos. Lindos! Não bastasse isso, era uma reconstituição de época! Comprei.

Os desenhos de Milo Manara são considerados (e vendidos como) eróticos.
Fiquei pensando como "erótico" é um conceito algo pessoal.

Erótico, prá mim, será sempre poster da Playboy em oficina mecânica de bairro, sabia? Havia um contraste entre as oficinas mecânicas "de antigamente", com toda aquela bagunça reinante, graxa, peças, um ambiente essencialmente masculino, e aqueles posters de revistas masculinas, lindas mulheres coladas na parede. Acho que levei pro resto da minha vida, essa sensação de impropriedade, como o conceito do erotismo.

Explico isso, porque sempre me soa engraçado, quando definem "erótico" um livro com desenhos primorosos, que será convenientemente lido e guardado com carinho, nas prateleiras da minha estante. Lembra as aulas de modelo vivo da faculdade de artes, os nus de grandes telas, que são para mim algo sensual, bonito, de bom gosto... mas carecem daquele elemento a mais, o fator de contraste, que associei ao erotismo de forma tão definitiva.

Seja como for, tenho pouco acesso a trabalhos do Manara, aqui da minha longínqua cidade. Então, comprei também os três volumes da história dos BÓRGIA, com texto de Jodorowski (este, conheci o trabalho através de um namorado/amigo há alguns anos, e gostei). Outro trabalho lindo, controvertido, um tanto mais pesado para a violência do quê para a sensualidade. Também descobri que Manara tem um tarot, mas esse só consegui ver, o quê existe disponível pela Internet. Que pena.

Manara...
Quando crescer, quero desenhar assim!






Complementando:
Prá quem é fã de MANARA, assim como eu, lembro que o desenhista tem uma página no facebook.
Esta semana (agosto de 2013), publicou um desenho da CAVALGADA DAS VALQUÍRIAS (possivelmente baseado na ópera de Wagner, não é?) que reproduzo aqui, junto com o link do autor.


MANARA - Cavalgada das Valquírias

Para ver mais obras de MANARA, siga por:
https://www.facebook.com/pages/Milo-Manara/199552600089066


RE BORDOSA, de ANGELI

Mas como falar de histórias em quadrinhos, e não falar da RÊ BORDOSA?

Prá quem não conhece (será possível que alguém não conhece????), a RÊ BORDOSA era uma personagem do Angeli, a bêbada pau dágua incorrigível, hilariante, marca da minha adolescência, e personagem que amo até hoje.

Rê Bordosa tem aquela veracidade, a sinceridade rasteira dos bêbados. Na época em que descobri os quadrinhos, eu tinha um botton que dizia AINDA VOU RIR DE TUDO ISSO!, que costumava colocar na blusa antes das provas, exames, noites insones em cima da prancheta de projetos, vestibulares, amores frustrados, falta de dinheiro e tudo o mais que atazana nossa juventude, e a gente teima em esquecer à medida que vai ficando mais velho.

Naquela época, já imaginava que seria assim, e pelo menos para mim foi auto-profecia. Meus vinte anos foram medíocres, mas os trinta foram muito melhores, e assim por diante. Ás vezes, quando reclamo da vida, tento lembrar daquilo que passou, prá ter certeza que apesar dos percalços, o que eu queria mesmo era essa liberdade (de opinião, financeira, de escolha) que só a maturidade nos traz.

Pois era isso que a Rê Bordosa significava para mim, com sua graça rasteira, sua banheira compartilhada e a palavra impensada, o cabelo espetado, vestido tubinho preto e aquele gestual de coxia de teatro. E suas gírias, trago até hoje... zuzo bein? Zei láh!


MÔNICA, personagem de Maurício de Souza, completa 50 anos!


Hoje vi no noticiário que a personagem da Mônica, do Maurício de Souza, que acompanhou minha infância e a da minha filha, completa cinquenta anos!

Histórias em quadrinhos nunca foram as minhas prediletas, desde sempre preferi romances. Mas a Turma da Mônica ocupam lugar especial no meu coração, ali juntinho com as histórias do Monteiro Lobato e suas Reinações de Narizinho, porque trazem zilhões de memórias consigo.

Quer saber? Acho que ainda sou capaz de cantar a musiquinha da Tetê Espíndola, do filminho da Mônica e as Sereias (ou algo parecido, peraí que vou consultar o Santo Google!), lançado em vídeo cassete quando as fitas de vídeo ainda eram uma novidade tecnológica, e minha filha era só um neném de pouco mais de três anos, aprendeu a rebobinar o filme e provavelmente o assistiu trocentasdedezenasdetrês vezes seguidas, até decorar cada fala e cada canção, e assistir o filme repetindo cada palavra junto com os personagens! Ela achava muito divertido, hoje isso parece uma piada, mas na época quase fiquei maluca!

Oba, Santo Google achou a musiquinha prá mim!

O filme era Mônica e a Sereia do Rio.

(Bons tempos!)

Fica o link prá quem quiser conferir.


MONICA, da Turma da Mônica, uma "cinquentona", quem diria?



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SÉCULO XXI

Estou apaixonada pelo meu sofá. Uma paixão que dura mais tempo do que imaginei, desde o momento que percebi as primeiras evidências. Quem diria, euzinha, agindo assim?
Mas é tão irresistível! Fim de tarde, chego tão stressada em casa, e lá está ele. Amplo, braços abertos, confortável. Em frente à janela, fico olhando os passantes, o sol que se põe, os temporais de verão que chegam de noitinha, os que levam os cachorros para passear, os corredores do dia a dia, os últimos clientes do açougue atrás de produtos frescos para o jantar, meus cachorros latindo para cada um deles, marcando presença, brincando. E, claro, a televisão ao fundo contando histórias enquanto faço meu jantar. E quantas delas aconteceram em tão pouco tempo! O mundo não acabou, mas o Papa renunciou, caiu um meteoro (ou foi um meteorito?) na Rússia, no Brasil as inundações se repetem todos os dias, árvores caídas, casas sem luz. Mudo de canal, documentários, ficção, filmes. Sempre há mais alguma coisa para ver, mais alguma coisa para conhecer. O tempo passa. O sofá me abraça. Fim de noite, hora de dormir.
Como pode? Estar apaixonada pelo sofá. Há momentos de culpa, claro. Mas então, eu penso, quem se importa? Um sofá não precisa de palavras, não precisa de ações, não precisa de ideologia. Um sofá só precisa da presença de alguém, e onde mais encontro isso? Meu sofá faz refletir sobre o lugar de uma pessoa no mundo. Sabe como? Sobre ser uma pessoa, de verdade, não um número em uma estatística, não uma vontade vencida pela maioria.
Um sofá... quem diria?


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Três romances de TATIANA DE ROSNAY

Oba! Encontrei mais um livro de Tatiana de Rosnay!

O primeiro livro que li desta autora, foi A CHAVE DE SARAH (Editora Objetiva, coleção Ponto de Leitura, tradução de Paulo Andrade Lemos). Hoje eu sei que até filme já existe deste livro (que, diga-se de passagem, nunca assisti!).

Mas até começo do ano passado, nunca tinha lido nada da autora. E estava, como sempre, "zapeando" pelas estantes da livraria, e encontrei o romance em edição de bolso, com o selinho de "mais de dois milhões de exemplares vendidos em todo o mundo". Ou seja: duas indicações decisivas, para acreditar que o livro era bom. Porque, aqui no Brasil (zei láh o porquê!), ao contrário do resto do mundo, só os livros que vendem muito e podem ser considerados clássicos de sua geração, são editados como livros de bolso. Esse é o nosso curioso país, onde a publicação barata e acessível consagra um autor...

Enfim.
A CHAVE DE SARAH é um romance simplesmente maravilhoso. Embora ambientado na segunda grande guerra, fala mesmo é de uma tragédia familiar que principia na inocência de uma criança. Começa com a curiosidade de uma jovem, viaja no tempo fuçando segredos, mas a dada altura da história eu lia e chorava, chorava e lia, sem conseguir parar. O livro ideal prá buscar na prateleira, quando a vida dá uma rasteira na gente, mas permanecemos fortes e contendo as lágrimas. Tocante. Magistral.

O segundo livro que li da Tatiana de Rosnay, foi UM SEGREDO DE FAMÍLIA. Uma leitura gostosa, cativante, sobre... segredos de família, oras! Não é tão marcante quanto a Chave de Sarah, mas tem uma narrativa fluente, que prende do começo ao fim.

E hoje, encontrei A CASA QUE AMEI. Esse eu só li o comecinho, mas estou entusiasmada. Primeiro porque eu mesma estou escrevendo sobre uma casa (aquela mal assombrada, que comentei em outro post. Aproveitei o feriado de carnaval, para escrever dois primeiros contos/capítulos, já estou com mais três quase todo estruturados na cabeça, pintei quatro fotos das quais três ficaram bem interessantes). É muito bom ler o que outros escreveram sobre temas similares, ajuda a pensar.

Mas Rosnay não escreve sobre qualquer casa. O livro é ambientado num dos períodos da história recente, que amo, porque acho extremamente parecido com tudo o que estamos vivendo hoje. Ela trata da reforma de Paris, levada a cabo entre 1852 a 1870 por Napoleão III e o Barão de Haussmann, quando tornaram a cidade-luz o exemplo de modernidade copiado por todo o mundo no século XX, ao mesmo tempo em que enterravam uma época cheia de tradições e costumes, a Paris medieval.

Essa reforma foi muito criticada por nomes como Baudelaire, Zola e Victor Hugo. E com a revolta destes pensadores privilegiados, a reforma de Paris trouxe à tona toda a insegurança social que marcou, na sociedde da época, a entrada da luz elétrica como o motor da civilização. A luz elétrica modificou tudo o que era conhecido até então, sem que se soubesse o que viria a seguir (e antes que alguém cogite somente das alegrias da modernidade, lembremos que o que "veio a seguir" foram duas guerras mundiais, a guerra fria, e no momento presente, o terrorismo - religioso, inclusive -, e a sombra de uma guerra atômica).

Mas quando se lé deste período, deste impacto e da insegurança social trazidos pela energia/luz elétrica, lemos de mudanças sociais muito similares às que vivemos na atualidade, e trazem as mesmas reflexões da contemporaneidade e sua tecnologia computadorizada. Substitua "luz elétrica", por "computador", e todo o restante se lê igual. A mesma rapidez na mudança de costumes, a mesma insegurança quanto ao futuro, a mesma sensação de invasão de privacidade.

É como fazer uma viagem no tempo, mas não sair do lugar.
Portanto, com licença, mas agora vou direto pro sofá, ler um pouquinho!




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SÉCULO XXI


Hoje a televisão anuncia a renúncia do Papa Bento XVI, a ser formalizada em 28 de fevereiro de 2013, agora, próximo. A primeira coisa que pensei, foi com que rapidez consegui substituir a previsão do fim do mundo maia, que não se concretizou no final do ano passado. Andava me sentindo meio vazia, desde que o (tão inacreditavelmente distante) 21 de dezembro de 2012 chegou, passou, e não teve nem uma catastrofezinha michuruca prá animar a platéia.

Não me entendam mal. Não tenho nenhuma predileção por notícias traumáticas, e sou daquelas capazes de trocar de canal no jornal televisivo diário, quando suas notícias mais parecem as de um jornal sensacionalista dos crimes do bairro. Era mais uma questão de costume, mesmo. Acho que vivi minha vida adulta, aguardando o malfadado fim do mundo. Esperei a virada do milênio, o Bug do ano 2000, o apocalipse de 2001. Achava mais provável o primeiro, o segundo já andava desacreditado mesmo naquela época. Depois, escolhi as profecias maias. Com elas, a humanidade não se extinguiria, a previsão somava apenas uma sucessão de catástrofes naturais mudando a configuração do mundo. Tinha, então, a vantagem da demora, mais de uma década para ler e devanear sobre uma época devastadora e um recomeço rudimentar. Porque é isso que as profecias de fim de mundo sempre significaram para mim: começar outra vez, num mundo mais rústico, diferente, um futuro com ares do passado.

Quando "nada" aconteceu, fiquei um tantinho desnorteada. Não porque acreditasse, com indignação, na veracidade da interpretação profética. Nem as latas de feijoada e legumes, e o estoque de vinho e cigarro que havia programado manter nos armários, cheguei a fazer. Na verdade, no dia fatídico, estava sentada no sofá assistindo a uma prosaica televisão, usufruindo os primeiros dias de férias no esgotamento físico e mental característico, pensando em como me arrependeria da falta de provisões se por algum destino azarado realmente acontecesse alguma catástrofe.

Mas ficou um vazio, aquela sensação de chegar no fim de um livro interessante, de quando sobe o letreiro de créditos do filme findo, do momento inevitável em que o garçon traz a conta e constatamos que foi tudo muito bom, excitante, mas terminou. Essa a tristeza das fantasias com hora marcada para terminar.

E eis que, hoje, assisto ao anúncio de que Bento XVI renunciou ao papado. O filme recomeça, portanto, com as profecias de Malaquias, que previu ao próximo - Pedro Romano -, o último papado contemporâneo a grandes mudanças, grandes catástrofes, uma espécie de fim do mundo, a queda da igreja e o vazio do Vaticano.

Acontecerá?
Não sei. Há tanta rotina na minha vida cotidiana, que agora confundo realidade e fantasia para ver se consigo resistir ao tédio. Uma confusão agora deliberada, pausada, decidida com vagar. Uma confusão saboreada como um bom texto literário, sem pudor, pronto para ser transformado em novas idéias, contos, romances, telas e desenhos, toda vez que houver um tempo livre em que eu possa me recolher como um ermitão, como neste Carnaval. Adeus, Maias.Bem vindo, Malaquias. O futuro pertence, agora, à imaginação.

DARKOVER - Marion Zimmer Bradley

Poucas autoras tiveram tanta influência na minha vida, como Marion Zimmer Bradley.

Digo "na vida", mesmo, porque as obras desta autora foram muito além da simples literatura. Por décadas, suas histórias me acompanharam, reli quase todos seus livros pelo menos três vezes. Adaptei o Juramento das Amazonas Livres para minha própria vida. E por fim, dei à minha personagem principal um nome composto, na forma como as Amazonas Livres o fariam.

Mas ano passado, numa tarde ociosa, fui pesquisar o que existia de comentários sobre minha autora favorita, até encontrar um comentário que me deixou indignada!
Alguém lia Marion sem conhecer as linhas de suas séries, as sequências de seus trabalhos!

Já escrevi sobre os livros interessantes que li nestas férias. Mas ainda não escrevi sobre os livros que inspiraram a vontade de escrever, ou explicar a quem interesse (ou talvez, apenas a mim mesma...), o que é a série DARKOVER, a ficção científica desta autora que é mais conhecida por sua reconstituição histórica (e herética) da história do Rei Arthur, na série em quatro volumes das BRUMAS DE AVALON.

DARKOVER é uma outra história, apenas ficção, sem a reconstituição histórica que marca alguns de seus livros mais famosos (como as Brumas de Avalon, ou O Incêndio de Tróia).

Marion definiu DARKOVER como ficção "comportamental", ou seja, uma ficção científica que valorava mais o comportamento humano ante novas tecnologias, do que a tecnologia em si.
Na época, uma inversão revolucionária, pois os autores famosos da ficção científica - que Marion leu e cita como referência de grandes mestres -, consideravam os avanços científicos como a razão das possibilidades infinitas do futuro.
Mas ao contrário destes grandes mestres da ficção científica, Marion tem uma visão parecida com a de MC LUHANN ou HUXLEY (Admirável Mundo Novo), outros dos meus autores favoritos. A idéia da "ficção científica comportamental" é o questionamento sobre como o uso de novas tecnologias, modifica quem somos, como percebemos a realidade, excluindo o enfoque entusiástico e tendenciosamente otimista dos discursos consumistas que acompanharam a propaganda de tais mudanças.

Para desenvolver essa idéia, Marion criou DARKOVER.
Em português, foram traduzidos dez livros da série, e são estes que eu conheço.
Todos os livros podem ser lidos de forma independente... mas não resta dúvida que são muito mais saborosos,quando lidos em sequência.

A história começa com A CHEGADA EM DARKOVER.
 É um livro pequeno, o menor de toda a série.
Conta a história de um grupo de cientistas, astronautas e colonos, que partem em busca de um planeta demarcado, onde os colonos iniciarão um assentamento humano.Porém, toda a avançadíssima tecnologia de viagens espaciais com que os humanos interagem nos muitos planetas conhecidos das galáxias próximas, na história que passa num império extra mundos em expansão, não consegue impedir um acidente com esta nave, que acaba pousando em um planeta desconhecido, não formatado nos mapas, sem acesso à comunicação interplanetária. Os cientistas vêem-se incapazes de consertar os estragos da nave, e ficam confinados ao lugar perdido. Mas os colonos, cujo destino era mesmo povoar algum planeta distante, não vêem diferença em assentar neste lugar desconhecido, ou em qualquer outro. Depois de alguns contratempos, os colonos decidem ficar por ali mesmo, já que o clima o permitia, e passam a chamar o lugar de Darkover. Neste meio tempo, Marion sugere que ali acontece primeira interação, entre humanos e uma forma alienígena feita de energia, como um fantasma.

A saga continua com a era do caos.
A população humana cresceu, formou aldeias e cidades, desbravou o planeta nas áreas habitáveis e demarcou seus lugares inacessíveis. Mas esqueceu suas origens.
Entre o povo, esporadicamente, nascem pessoas com poderes paranormais. E já se sabe que tais poderes são transmitidos geneticamente. Assim, as famílias onde nascem crianças com tais poderes, começam a promover casamentos entre parentes, no objetivo de fortalecer tais dons. E estas famílias tornam-se poderosas, estabelecendo sociedades feudais.

Porém, na era do caos, ninguém sabe com mediana certeza, quais são os dons possíveis ou como controlá-los, e por isso, as histórias deste período terminam em tragédias.
São romances da era do Caos: A RAINHA DA TEMPESTADE (sobre a jovem capaz de dominar as forças da natureza), e A DAMA DO FALCÃO (sobre a jovem capaz de se comunicar com os animais).

Conta a saga que, muitos séculos depois, os humanos "terráqueos", estendendo infinitamente o Império, finalmente descobrem DARKOVER. E se surpreendem como a população local é parecida com os próprios humanos, embora os considerem vivendo em uma sociedade de características medievais.

Nesta fase, séculos haviam passado desde a Era do Caos. Os darkovianos finalmente conseguiram identificar os portadores de poderes paranormais, suas ramificações, as fases de crescimento, loucura e desenvolvimento dos poderes, e a forma de controlá-los. Formam-se as castas reais, das famílias poderosas e donas de muitas terras, e as castas sacerdotais, que reúne, treina, potencializa e coloca a serviço da sociedade, a canalização da energia dos portadores de poderes paranormais.

Marion desenvolve a idéia de um futuro extremamente racional e tecnológico para a raça humana originária da terra/os terráqueos, e a contrapõe com uma civilização de características medievais, mas portadora de poderes paranormais fortíssimos, um segredo guardado ciosamente contra os invasores/os darkovianos.

Nesta sociedade "medieval", Marion recria e dá cores à opressão feminina, no universo da ficção. Em sua descrição do casamento formal, dito "di catenas", substitui o simbolismo (para nós tradicional) das alianças, para literais algemas (catenas), significando a prisão e a submissão da mulher na hierarquia patriarcal darkoviana. Em contrapartida, cria a  Guilda das Amazonas Livres, uma respeitada associação de mulheres adultas que conquistaram o direito de ser independentes, negociando com os poderes locais, que reúne as mulheres que vontade própria aceitem as regras rígidas da associação, a maioria fugida de maridos violentos, vítimas de trágicas histórias de opressão no passado.
Doutro lado, entre os "terráqueos", Marion aborda personagens que perfazem os questionamentos do pós-feminismo: o desprezo à vida familiar, a difícil conciliação entre a vida profissional e a vida privada, o desrespeito masculino no relacionamento a dois, e o cerceamento da intuição, sensibilidade e criatividade feminina no uso da alta tecnologia racional e computadorizada, e das burocracias e hierarquias da política de conquista espacial/imperial.

São histórias da chegada dos humanos, e da era de transição, DOIS PARA CONQUISTAR (que retrata o fim da Era do Caos), depois A CORRENTE PARTIDA (que prioriza a condição de submissão da mulher na sociedade patriarcal de Darkover), e A CASA DE THENDARA (que trata do choque de culturas, tecnológica e paranormal, sob a visão de duas mulheres, cada qual refletindo sobre o amor, a liberdade e os valores que defende).

Na última fase da série, terráqueos e darkovianos já compreenderam que são todos "humanos", embora não saibam explicar como tal realidade possa ter acontecido, mas há a hipótese de que a nave perdida de séculos atrás, tenha pousado no planeta até então desconhecido, e os darkovianos sejam descendentes dos primeiros colonos.
A interação dos dois povos, terráqueos e darkovianos, é fato consumado, embora exista preconceito dos dois lados: os terráqueos ainda consideram os darkovianos um povo atrasado e medieval, e muitos darkovianos consideram a vida dos terráqueos como insípida, fria e vazia. Isso não impede que darkovianos aprendam técnicas terráqueas, como no caso do acordo para transferência de tecnologia firmada entre médicos terráqueos e curandeiras Amazonas Livres. E isso não impede que terráqueos optem em viver com darkovianos, recebendo em troca um aprofundamento emocional e, para alguns, a descoberta de seus poderes psíquicos.
Do período, são os livros: A  CIDADE DA MAGIA (que trata conhecimentos paranormais dos darkovianos, agora deferidos a uma terráquea), A HERANÇA DE HASTUR (em torno do relacionamento de amor e ódio entre o império terráqueo e as famílias reais de Darkover), A TORRE PROIBIDA (que fala sobre a submissão dos magos ao poder dos reis, e da revolta de um grupo de paranormais poderosos que resolve, em ato de rebeldia, destinar seus poderes em favor do povo), e DESTRUIDORES DE MUNDOS (que fala da existência de outros seres fantásticos, em via de extinção, ocultos como lendas da própria Darkover).





E quer saber?
Comecei a ler Darkover, lá pelos anos 90. Quase quinze anos depois, ainda repito o Juramento das Amazonas Livres, e fico feliz em saber que segui, vida afora, os conceitos que desde então tocaram meu coração.

"Deste dia em diante renuncio ao direito de casar, a não ser como uma companheira livre. Nenhum homem me prenderá di catenas (com algemas) e não habitarei na casa de nenhum homem como uma barragana (amante). (...) Deste dia em diante juro que nunca mais serei conhecida de novo pelo nome de qualquer homem, seja ele pai, guardião, amante ou marido, mas apenas e exclusivamente como a filha de minha mãe. Deste dia em diante juro que não terei filho de qualquer homem, a não ser por meu próprio prazer e no meu tempo e opção; não terei filho de qualquer homem por casa ou herança, clã ou linhagem, orgulho ou posteridade; juro que somente eu determinarei a criação de qualquer criança que gerar, sem consideração pelo lugar, posição ou orgulho de qualquer homem. Deste dia em diante (...) presto o juramento de que só devo fidelidade às leis da terra como uma cidadâ livre deve fazer; ao reino, à coroa e aos Deuses. (...)




Fuçando na internet (depois de escrever, e semanas após editar esse post), encontrei no facebook um pósfácio de Marion Zimmer Bradley, sobre seu processo criativo. Gostei, transcrevo:

http://www.facebook.com/aquedadeatlantida
(Acessado em 25/03/2013)

POSFÁCIO DO LIVRO, DE MARION ZIMMER BRADLEY
Uma das perguntas que fazem e nauseiam os escritores é a seguinte:
- Onde vai buscar as suas ideias?
Quando respondo a esse tipo de perguntas tendo a ser mal educada e peremptória, pois parece que as "ideias" são uma espécie de praga repelente, totalmente estranha a quem fez a pergunta, sugerindo que ser capaz de ter "ideias" é pouco habitual. Ora eu não consigo sequer imaginar a vida sem ter,
mais ou menos de hora a hora, mais ideias do que poderei usar durante uma vida.
Mais racionalmente, sei que quem pergunta procura apenas,
ainda que não o explique de forma articulada, um vislumbre do processo criativo que lhe é desconhecido. E quando me perguntam de onde me veio a ideia para um livro como o Teia de Escuridão posso responder, sem faltar à verdade, que não faço ideia. De onde vêm os sonhos?
Uma das minhas recordações mais antigas, de quando era muito pequena, é a construção de estruturas enormes e imponentes com os muitos blocos de madeira que o meu pai, que era carpinteiro, nos oferecia como suplemento do pequeno e pouco imaginativo conjunto de cubos de construção que havia no quarto dos brinquedos. Quando me perguntavam o que estava a construir, eu respondia invariavelmente, "templos". A palavra era-me estranha; suspeitava que os templos eram "qualquer coisa parecida com igrejas" (que eu sabia o que eram) "só que muito mais". Lembro-me de ter visto uma imagem de Stonehenge e de a ter reconhecido. Só viria a ver essa construção quando já tinha quase cinquenta anos. No entanto, quando isso aconteceu,
continuei a sentir o mesmo "choque de reconhecimento".
Não me levaram muito ao cinema (e quando fui, vi sobretudo comédias e filmes de cowboys, que não tinham muito interesse para o tipo de criança que eu era) e, na minha infância, não havia televisão. Por isso onde teria eu ido buscar o desejo de imitar as estruturas imponentes dos templos Indianos ou Egípcios, com as suas longas filas de colunas e repletos,
imaginava eu, de um grande número de sacerdotes e sacerdotisas envoltos em longos mantos cujas cores definiam as suas funções?
As únicas imagens físicas da minha infância (estou a referir-me aos meus quatro anos, quando não conseguia ler mais do que Alice no País das Maravilhas) encontrei-as num livro de contos de Tanglewood, imagens de belas paisagens e de um mundo antigo que nunca existiu a não ser, talvez, na Ode on Intímations of Immorta-lity (um poema que sou muito bem capaz de ter ouvido ler antes de ser capaz de o compreender - a minha mãe era uma romântica). Mas eu sabia que aquele mundo de imagens existia; reconheci-o nas paisagens de Maxfield Parrish e, quando a minha imaginação (alimentada por Rider Haggard e Sax Rohmer), muito antes de eu ter descoberto a ficção científica através das revistas, começou a fervilhar com estas personagens e incidentes, creio que as coloquei no cenário dos templos e ambientes que construíra com os meus blocos de madeira, tal como um dramaturgo enquadra as suas personagens no palco de um teatro infantil que talvez tenha possuído na infância.
De onde vêm afinal de contas os sonhos? Só nessa fonte misteriosa poderei procurar a origem da "ideia" de Teia de Luz e Teia de Escuridão. E foi nessa mesma fonte que, anos mais tarde, fui inspirar-me para obter as visões que me proporcionaram as BRUMAS DE AVALON.
De onde vêm os sonhos?

Marion Zimmer Bradley















Histórias de Fantasmas

Eis o livro que me inspirou a fase atual: HISTÓRIAS DE FANTASMAS (Ed Suma das Letras, organização Richard Dalby, tradução Cristina Cupertino), uma coletânea de contos de terror de 25 autoras inglesas.
Há muito... MUITO tempo, que eu não lia contos. De forma geral, não é minha opção literária preferida. Quase prefiro um romance ruim, a ler contos. Mas abri uma exceção: estava à procura de uma opção para escrever, mais curta, que pudesse conciliar com imagem, e que pudesse apresentar para contadores de histórias. Vou trabalhar com isso na pós graduação em que me inscrevi (arteterapia), mas não conheço esse universo, que vejo crescer longe de mim.
A grande curiosidade que levo comigo, para o ano que inicia, é que tipo de literatura é contada por esse imenso voluntuariado, e se existe espaço para novos autores. Mas penso: mesmo que exista, terão que ser textos mais curtos, não é? Não serve, para esse tipo de leitura terceirizada, mais de duzentas páginas que precisam ser lidas de forma corrente.
Era esse o meu pensamento, quando encontrei esse lançamento nas prateleiras. Dizia a orelha, que as autoras, além do "terror", também tinham uma influência feminista. Verdade seja dita, li o livro inteiro e ainda estou procurando a influência feminista. Mas também não fui analisar autora por autora dentro de sua época. Possível que esse feminismo, seja como as teorias de Sartre: foram absorvidos pela sociedade, como uma "verdade óbvia" com tamanha rapidez, que precisamos de uma perspectiva histórica para reconhecê-los como uma idéia revolucionária em seu tempo. Como chamam a isso, mesmo? Presentismo? Acho que é isso.
Fiz bem em abrir a exceção.
O livro é delicioso. E foi a inspiração que eu precisava, para encontrar direcionamento e retomar um projeto antigo, de escrever fantasia sobre uma casa abandonada próxima aqui de casa e que, dizem as más linguas, é assombrada. Em pleno Carnaval, enquanto o país dança samba e se diverte na folia, e o resto do mundo ouve pasmo a notícia da renúncia do Papa Bento, eu pinto cenas e fantasmas sobre as fotografias do registro de três anos atrás, pesquiso material sobre a história da minha cidade, e invento minhas próprias histórias de fantasmas, tentando criar contos que, reunidos, formem um romance que possa ser lido à prestação.
Porque HÍSTÓRIAS DE FANTASMAS tem essa capacidade de inspiração. São histórias muito bem escritas, algumas com aprofundamento psicológico, outras surpreendentemente interessantes apesar de não resvalar para além de um episódio que o próprio personagem considera discutível. No conto NÃO CONTE PARA CISSIE (Célia Fremlin), consegui me colocar no lugar das personagens, fui surpreendida com um final inesperado, e passei dias sem conseguir esquecer a história. A HISTÓRIA DA VELHA BABÁ (Elizabeth Gaskell) é uma viagem no tempo, narrativa cativante como um bom filme. O MOTORISTA (Rosemary Pardoe) apresentou uma idéia surpreendente: um fantasma amigável, cuja presença é desejável. E a história de QUEM ANDOU SE SENTANDO NO MEU CARRO? (Antonia Fraser) lembra, um pouco, o ambiente trágico e fatalista de alguns livros de Stephen King.










domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um autor: CARLOS RUIZ ZAFÓN


 

Em 2012, descobri Carlos Ruiz Zafón. O primeiro que li, foi A SOMBRA DO VENTO (Ed Summa das Letras, tradução de Márcia Ribas), ainda no primeiro semestre do ano. Chamou a atenção o selinho impresso “Mais de 6.5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo”, um indicador razoavelmente preciso para um livro que vou gostar de ler (com exceções notáveis, como o tal “Comer, amar & rezar” e o primeiro volume da trilogia dos tons de cinzas, em ambos joguei dinheiro fora: comprei o livro, fiz o maior esforço prá ler, mas não consegui chegar na centésima página e desisti, vencida pelo tédio).

Também dei uma espiada na orelha, antes de comprar, é claro. Lá estava escrito, na sucinta sinopse, “(...) leva-o até o Cemitério dos Livros Esquecidos, uma biblioteca secreta que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo à espera de alguém que as descubra.”

Uma escritora à procura de leitores, quase desmotivada de tanto escrever para gavetas, consegue resistir à imagem de um Cemitério de Livros Esquecidos? Bom, eu não consegui. Foi o livro que levei prá casa, li em uma sentada, naquele misto de admiração e uma pontinha de inveja, que a idéia foi de Zafon, e não minha...

São os mais de seis milhões de leitores que me dão certeza de não ser suspeita para elogiar o livro. Mas confesso: eu o li, fascinada com a idéia, com vontade de descobrir onde é o tal lugar secreto do Cemitério dos Livros Esquecidos, quase determinada a colocar ali também os meus. Alguém os descobriria? Meus livros seriam o início de uma aventura, como ocorre com os personagens de Zafón?

Mas o gostoso de descobrir (e se identificar com) um autor que já é reconhecido, é que posso terminar de ler um livro e correr à livraria em busca de outros volumes do mesmo autor! Neste caso, foi amor à primeira vista, com direito a mais três encontros apaixonantes: li em seguida O JOGO DO ANJO (Editora Objetiva, em edição de bolso, coleção Ponto de Leitura, tradução Eliana Aguiar), e PRISIONEIRO DO CÉU (Editora Summa das Letras, tradução Eliana Aguiar), todos continuações da Sombra do Vento, e eu quase me sentindo parente por afinidade dos personagens do livro. Adoro a sensação de retornar à uma nova história, continuação de outra que eu já li. Sou uma destas leitoras tolas, que fala sozinha com os personagens para perguntar, cada início de uma nova história, como passou o tempo desde que nos encontramos no livro lido, antes ainda de me envolver na nova aventura em que vamos embarcar. Fiz isso em toda a série Darkover da Marion Zimmer Bradley, nos livros de bruxas e vampiros de Anne Rice, e repito qual um ritual, toda vez que me defronto com mais uma série apaixonante. Se no primeiro livro que leio de um autor tudo é novidade e expectativa, do segundo em diante já me sinto parte da família.

E neste começo de ano, que felicidade, re-edição de MARINA (Editora Summus das Letras, tradução de Eliana Aguiar). Na nota do autor, Zafon explica que o romance esteve em disputa de direitos autorais por muitos anos (a primeira edição é de 1999), e que foi originalmente escrito e publicado como livro juvenil, mas que ele próprio tem a esperança de que tivessem apelo para gente de todas as idades. Será que lhe escrevo, dizendo que até na "meia idade" (eu!) também se festeja o livro?

As histórias são interessantes. Mas o que realmente prende a atenção é a forma como Zafon constrói a trama, crescendo devagar até enormes suspenses a partir de informações ou circunstâncias quase banais. É um daqueles autores que partem da realidade cotidiana em direção à fantasia, tecendo aventura em torno dos segredos dos personagens que cria, naquele vácuo imerso de criatividade que existe entre o que aconteceu, o que não se sabe se aconteceu, e a pura fantasia do que não aconteceu mas poderia ter acontecido. Acho que foi muito fácil, como leitora, criar empatia com esse tipo de narrativa, porque é um espelho da meu/nosso cotidiano, onde tão difícil discernir a realidade da fantasia, a promessa eleitoreira da intenção política, a tragédia anunciada do ocaso infeliz. Estamos todos afogados na realidade triste e manipuladora das mídias. Estou sempre perguntando qual a verdade por trás da demagogia das matérias jornalísticas. Zafón escreve como quem vê a realidade por uma câmera de segurança da loja, fixando os detalhes de uma realidade fantástica cheia de referência ao cotidiano que conhecemos, mesmo que seja por resquícios persistentes de um passado recente.

Agora, fico torcendo para encontrar um quinto livro do mesmo autor. E para, mais uma vez, deixar a realidade do lado de fora da porta do quarto, e mergulhar por mais algumas noites pelos corredores escuros do Cemitério dos Livros Esquecidos e andar nas ruas sombreadas de histórias da velha Barcelona.

 
(Capa do livro MARINA, Editora Summus)
 

O ORFANATO DA SRTA PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES


O ORFANATO DA SRTA PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES, de Ransom Riggs. Autor RAnsom Riggs, traduzido por Edmundo Barreiro e Márcia Blasques, editado no Brasil pela Editora LeYa, e eu o comprei e li em 2012.
 
Exposto nas Livrarias Curitiba, o livro chamou a atenção por mais de uma razão. Já estávamos da metade para o fim do ano de 2012, e acompanhava com curiosidade o trabalho de conclusão do Curso Superior de Escultura de uma colega, a Vanessa Loiola, que expôs sob o título “A Posteriori” (vide: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1313775&tit=Exposicao-mostra-mortos-fotografados-como-se-estivessem-vivos-). O trabalho foi considerado controverso, pois construído a partir de uma extensa pesquisa de fotos de mortos do fim do século XIX, no costume de época de retratar os entes queridos logo após o falecimento, vestidos e maquiados como se ainda estivessem vivos entre os familiares sobreviventes. E foi bastabte criticado, durante sua construção, fosse porque considerado mórbido, ou por sua clara referência narrativa “pouco contemporânea” (?). Mas eu torcia por este, chamava minha atenção porque, ao contrário da ostensiva maioria dos alunos-artistas, ela não se preocupou em repetir discursos politicamente corretos, tampouco em fazer a arte abstrata quase decorativa, ou da agressividade tão acondicionada e previsível que se vê como ponto comum em qualquer exposição acadêmica.
A outra razão, foi a frase simples de Tim Burton, colocada na contracapa do livro na forma de pergunta: “Vocês tem certeza que não fui eu quem escreveu esse livro? Parece algo que teria feito...”. Foi quando folheei o livro, que é impresso em uma diagramação diferente e algo antiquada, cheio de fotos em preto e branco e inequivocamente do século passado. Não resisti. Além de admirar Tim Burton, tenho procurado por trabalhos que reúnam texto e imagem, e que não sejam simplesmente histórias em quadrinhos, procurando uma forma compatível comigo para desenvolver meu próprio trabalho. Já excluí idéias boas na teoria e fracas na prática, porque alguém tentou isso antes e não gostei do resultado. Sempre achei que aprender com a experiência alheia, sai mais barato e dói menos. Então, comprei o livro, trouxe para casa na expectativa de ler algo original, diferente, curioso.
Esta foi uma das melhores compras que fiz no ano passado, e o primeiro livro que li que REALMENTE intercala texto e imagem. Como informa o autor, no final do livro, “(...) todas as imagens deste livro são fotografias antigas autênticas e, com exceção de algumas que passaram por leve tratamento, não foram alteradas.”. Segue uma relação dos colecionadores, proprietários de cada uma das imagens singulares e curiosas. Sobre essa coleção de fotografias curiosas, muitas delas visíveis experimentos das possibilidades de efeitos especiais ainda em sua fase primeira e rudimentar, Rasom Riggs cria uma história de fantasia sobre pessoas com poderes especiais e uma nesga no tempo, absolutamente fascinante.

O entrosamento texto & imagem, é surpreendentemente simples e (para mim), novo. Primeiro, os personagens são descritos dentro da narrativa. Só depois, a gente encontra a foto. Não é uma ilustração do texto. Ao contrário, no ritmo da narrativa, a gente relê na imagem, do quê já conhecia do texto. Fiz, com prazer, o que se previa: a cada foto, eu voltava no texto, relia o que foi escrito, voltava e comparava com a imagem. E assim, cada fotografia se transformava em uma janela da imaginação, porque nunca nos contentamos em ver apenas aquilo que nos indica o autor, mas fazemos da obra lida a referência para um número infinito de associações.
Alguém pode explicar porque quando algo nos fascina, tudo parece acontecer com uma sincronia espetacular? Poucas semanas depois de terminar o livro, minha filha trouxe o filme A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (Martin Scorcese, 2012) para assistirmos juntas. Fiquei fascinada. Era a mesma época, o mesmo contexto de imagem, uma imersão no passado. Depois de livro mais filme, quase saí atrás de uma máquina fotográfica antiga, quase investi um dinheiro que não tenho só prá fazer um estúdio de revelação de fotografias preto e branco em algum canto perdido da casa. Sonhei por uma semana a fantasia de que, na “encarnação passada”, fui atriz de algum filme de Meliers, que vivi naquelas casas vitorianas antiquadas. Retomei o desejo de reformar a casa, acrescentar um sótão, instalar ali uma escrivaninha baixa e escrever poemas a bico de pena. Queria ser uma criança peculiar. Queria viver numa fenda do tempo. Queria viajar com um foguete de teatro até uma lua falsa. Queria um autômato para colorir meu coração.
(Nunca vou entender como alguém vive sem fantasia.)

Capa do livro (no Brasil, Ed LeYa)
 

... O MUNDO NÃO ACABOU!


... mas janeiro acabou. Janeiro, o mês mais longo do ano, trintaeumdias seguidos, onde eu trabalho período integral, sempre com pouco dinheiro e muita conta prá pagar, enquanto mais da metade das pessoas que conheço usufrui de suas férias. Um mês mal humorado, calorento, cansativo, estafante. Nunca foi um mês auspicioso para começar o ano. Mas estou resignada, não posso mudar o calendário ao meu bel-prazer, então aprendi a simplesmente ignorar, como fosse uma erva daninha que insiste em crescer sempre no mesmo lugar, até que janeiro finalmente finde.

Estou cheia de idéias e pobre de motivação. Passo o dia pensando em coisas bacanas para escrever, mas quando chego em casa, prefiro deitar na cama para ler aquilo que outros escreveram. Não fui prá frente do espelho procurar explicações psicológicas para tanto marasmo, preferi culpar janeiro com seu tempo abafado, seus temporais assustadores, e os tantos bons livros que abundam nas prateleiras das livrarias. É impressão minha, ou há uma oferta maior de bons textos, apesar de toda a propaganda de que pouco se lê? Não sei explicar. O que eu sei, é que desde aquela época longínqua em que minha mãe me levou pela primeira vez à biblioteca municipal, que não tinha outro período da vida em que tantas vezes tenha olhado prateleiras e tantas vezes tenha encontrado tantas histórias maravilhosas para ler. Tantas vezes tântrico. Eu me fascino, e assim o tempo passa mais célere do que deveria.

Mas janeiro acabou.

E a menos que pretenda passar todo o ano neste marasmo tântrico, é melhor puxar as rédeas do ócio, e achar formas de me motivar a voltar aos projetos pessoais, porque ninguém vai bater na minha porta tentando me animar para isso.

Foi quando tive a idéia... enquanto escrevo minhas coisas, que tal também escrever o que gostei nestes livros fascinantes? Porque essa roda da fortuna sempre funcionou para mim: eu escrevo sobre o que outros escreveram, e o que outros escreveram me serve, inspiram a escrever para mim.