Em
2012, descobri Carlos Ruiz Zafón. O primeiro que li, foi A SOMBRA DO VENTO (Ed Summa das Letras, tradução de Márcia
Ribas), ainda no primeiro semestre do ano. Chamou a atenção o selinho
impresso “Mais de 6.5 milhões de
exemplares vendidos em todo o mundo”, um indicador razoavelmente preciso
para um livro que vou gostar de ler (com
exceções notáveis, como o tal “Comer, amar & rezar” e o primeiro volume da
trilogia dos tons de cinzas, em ambos joguei dinheiro fora: comprei o livro,
fiz o maior esforço prá ler, mas não consegui chegar na centésima página e
desisti, vencida pelo tédio).
Também
dei uma espiada na orelha, antes de comprar, é claro. Lá estava escrito, na
sucinta sinopse, “(...) leva-o até o
Cemitério dos Livros Esquecidos, uma biblioteca secreta que funciona como
depósito para obras abandonadas pelo mundo à espera de alguém que as descubra.”
Uma
escritora à procura de leitores, quase desmotivada de tanto escrever para
gavetas, consegue resistir à imagem de um Cemitério de Livros Esquecidos? Bom,
eu não consegui. Foi o livro que levei prá casa, li em uma sentada, naquele
misto de admiração e uma pontinha de inveja, que a idéia foi de Zafon, e não
minha...
São
os mais de seis milhões de leitores que me dão certeza de não ser suspeita para
elogiar o livro. Mas confesso: eu o li, fascinada com a idéia, com vontade de
descobrir onde é o tal lugar secreto do Cemitério dos Livros Esquecidos, quase
determinada a colocar ali também os meus. Alguém os descobriria? Meus livros
seriam o início de uma aventura, como ocorre com os personagens de Zafón?
Mas
o gostoso de descobrir (e se identificar com) um autor que já é reconhecido, é
que posso terminar de ler um livro e correr à livraria em busca de outros
volumes do mesmo autor! Neste caso, foi amor à primeira vista, com direito a
mais três encontros apaixonantes: li em seguida O JOGO DO ANJO (Editora
Objetiva, em edição de bolso, coleção Ponto de Leitura, tradução Eliana Aguiar),
e PRISIONEIRO DO CÉU (Editora Summa das Letras, tradução Eliana Aguiar), todos
continuações da Sombra do Vento, e eu quase me sentindo parente por afinidade
dos personagens do livro. Adoro a sensação de retornar à uma nova história,
continuação de outra que eu já li. Sou uma destas leitoras tolas, que fala
sozinha com os personagens para perguntar, cada início de uma nova história, como
passou o tempo desde que nos encontramos no livro lido, antes ainda de me
envolver na nova aventura em que vamos embarcar. Fiz isso em toda a série
Darkover da Marion Zimmer Bradley, nos livros de bruxas e vampiros de Anne
Rice, e repito qual um ritual, toda vez que me defronto com mais uma série
apaixonante. Se no primeiro livro que leio de um autor tudo é novidade e
expectativa, do segundo em diante já me sinto parte da família.
E
neste começo de ano, que felicidade, re-edição de MARINA (Editora Summus das
Letras, tradução de Eliana Aguiar). Na nota do autor, Zafon explica que o
romance esteve em disputa de direitos autorais por muitos anos (a primeira
edição é de 1999), e que foi originalmente escrito e publicado como livro
juvenil, mas que ele próprio tem a esperança de que tivessem apelo para gente
de todas as idades. Será que lhe escrevo, dizendo que até na "meia idade" (eu!) também
se festeja o livro?
As
histórias são interessantes. Mas o que realmente prende a atenção é a forma
como Zafon constrói a trama, crescendo devagar até enormes suspenses a partir de
informações ou circunstâncias quase banais. É um daqueles autores que partem da
realidade cotidiana em direção à fantasia, tecendo aventura em torno dos
segredos dos personagens que cria, naquele vácuo imerso de criatividade que
existe entre o que aconteceu, o que não se sabe se aconteceu, e a pura fantasia do que não aconteceu mas poderia
ter acontecido. Acho que foi muito fácil, como leitora, criar empatia com esse
tipo de narrativa, porque é um espelho da meu/nosso cotidiano, onde tão difícil
discernir a realidade da fantasia, a promessa eleitoreira da intenção política,
a tragédia anunciada do ocaso infeliz. Estamos todos afogados na realidade
triste e manipuladora das mídias. Estou sempre perguntando qual a verdade por trás
da demagogia das matérias jornalísticas. Zafón escreve como quem vê a realidade
por uma câmera de segurança da loja, fixando os detalhes de uma realidade
fantástica cheia de referência ao cotidiano que conhecemos, mesmo que seja por
resquícios persistentes de um passado recente.
Agora,
fico torcendo para encontrar um quinto livro do mesmo autor. E para, mais uma
vez, deixar a realidade do lado de fora da porta do quarto, e mergulhar por
mais algumas noites pelos corredores escuros do Cemitério dos Livros Esquecidos
e andar nas ruas sombreadas de histórias da velha Barcelona.
(Capa do livro MARINA, Editora Summus) |
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