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terça-feira, 19 de março de 2013

RAÍZES DO OCULTO, a verdadeira história de Madame H. P. Blavatsky, de Henry S. Olcott

Não sou nenhuma conhecedora de ocultismo, porém a temática das heresias sempre me atraiu. Esse o pano de fundo do interesse em ler alguma coisa sobre as sociedades teosóficas, assim como já tinha lido algo sobre a nova era e os movimentos wicca, esporadicamente. Afinal, no quê acreditar, quando a fé é livre?

Partilho a idéia de que a liberdade e a saúde são os estados naturais para cada um de nós. Ou, em outras palavras: que quando estamos saudáveis, e/ou livres, simplesmente não nos preocupamos com isso, porque então estamos no nosso "natural". Ninguém que acorde bem disposto e cheio de saúde, passará o dia pensando como é bom não ter dor de cabeça, dor de dente, dor de ouvido, problemas nos rins ou unhas encravadas. Se estamos saudáveis, vamos nos preocupar em viver a vida, trabalhar, estudar, curtir o presente e planejar o futuro. Mesma coisa com a liberdade, que não conseguimos mensurar até o momento exato em que somos cerceados. Assim somos nós, humanos. O que nos é essencial, só conseguimos perceber e mensurar com clareza, quando nos falta.

Além disso, sem fontes fidedignas, conhecia um pouco do histórico de época, de que as sociedades teosóficas, ao final do século XVIII, reuniam intelectuais insatisfeitos com os rumos do espiritismo, que consideravam vulgarizado pelas sessões em busca de comunicação com os parentes mortos, mais das vezes para simples colóquios saudosistas considerados de interesse restrito e mesquinho. Eles queriam mais, queriam tornar sua fé e crença, também uma filosofia e uma ciência.

Foi em um sebo que encontrei uma biografia de Madame Blavatsky, que até então só conhecia por reputação, informando a orelha do livro que se tratava de texto histórico, escrito pelo homem que financiou suas pesquisas esotéricas. Com o título RAÍZES DO OCULTO, A VERDADEIRA HISTÓRIA DE MADAME H.P.BLAVATSKY, autor Henry Steel Olcott  (que li em português, com tradução de Alcione Soares Ferreira, em uma edição de 1983 pela Editora Ibrasa, Instituição Brasileira de Difusão Cultural S/A).

O livro é curioso. Escrito com o coração e muita empolgação, Olcott passa melhor o entusiasmo pela causa e a expectativa de resultados impressionantes a curto prazo, do quê a biografia ou o registro do momento histórico que pretendia retratar. Mais do que acreditar nos poderes de Blavatsky, ele acreditou que ela seria capaz de comprovar irrefutavel e "cientificamente" a existência do oculto, de forma rápida e cabal.

Por isso, para o olhar contemporâneo, há passagens em que imaginamos se Olcott não compraria um "bilhete premiado" na próxima esquina, pois sua empolgação quase exige o engôdo. Não que eu discuta se Blavatsky tinha, ou não, mediunidade ou poderes paranormais. Mas porque se sabe que mesmo as pessoas dotadas de sensibilidade paranormal, não tem como garantir efeitos físicos e provas "com hora marcada", a quem queira ser convencido no horários de folga de seu expediente de trabalho.

Este, portanto, é um livro para ser lido dentro do contexto de época. Precisamos lembrar das aulas de história da antropologia (vendo como os primeiros antropólogos alçaram a ciência, o que para eles tinha muito do prazer de viajar e conhecer povos diferentes, de lugares remotos), de história da arqueologia (lembrando como os primeiros arqueólogos eram aventureiros amadores, empolgados em encontrar na realidade aquilo que até então se considerava a fantasia dos mitos e histórias da antiguidade), e de tantos outros interesses, crenças, curiosidades e senso de aventura que, naquele final de século, só poderiam ser considerados com seriedade e levantar fundos de pesquisa, se houvesse alguma forma de situá-los no campo das "ciências".

Por isso, considero que como uma "biografia de Blavatsky", este seja um livro pouco confiável. Pelo menos eu não tive coragem de formar opinião sobre esta mulher, a partir de um texto tão tendencioso.

Mas é um documento histórico valioso, se queremos entender o pensamento daqueles que, mesmo frustrados com as primeiras tentativas (as fraudes e mágicas, apresentadas como paranormalidade, existem até hoje...), efetivamente conseguiram tornar a parapsicologia uma ciência, ainda que seja um ramo de estudo cheio de controvérsias.




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