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quarta-feira, 6 de março de 2013

O MAPA QUE MUDOU O MUNDO, de Simon Winchester

Se há uma maneira deliciosa de aprender sobre algo que verdadeiramente não se sabe, é através das histórias romanceadas. Comecei este costume com arqueologia: lia os livros de pesquisa, do mesmo jeito que lia romances ambientados, sem contar os inúmeros filmes ao melhor estilo "Indiana Jones".

Mas fui adiante, e passe a procurar, também, livros romanceados sobre assuntos dos quais nada conheço.
É uma aventura interessante. Como abrir janelas para um mundo desconhecido, descobrir como vidas inteiras foram dedicadas a algo que eu nunca tinha realmente prestado atenção.

É o caso do romance de Simon Winchester, O MAPA QUE MUDOU O MUNDO - Willian Smith e o nascimento da geologia moderna (em português, com tradução de Suyan Marcondes Orsbon, editado pela Editora Record, 2004).

Comprei o romance em abril de 2011. Chamou a atenção a edição curiosa: a contracapa, com suas tradicionais orelhas, foram impressas em papel de qualidade (tamanho A2, acho) sobre cópia do mapa de que trata o livro, devidamente dobrada. A gente compra o livro, mas junto ganha um "poster".

A história, que narra a vida de William Smith com suas descobertas e o esforço de publicação de seus mapas, está exatamente no meio termo entre ficção e ensaio. Tudo se passa na virada do século XVIII e início do século XIX, onde pesquisas científicas sobre fósseis ainda poderiam ser compreendidas como uma heresia. Isso porque ainda havia uma maioria de pessoas que acreditavam no dogma medieval cristão, de que o mundo como o conhecemos foi criado há 5 mil anos atrás.

Portanto, William Smith, pesquisando fósseis e rochas, e tentando entender a evolução da terra, o fez caminhando em terreno muito perigoso. Esta a ciência que, nas décadas que se seguiram, comprovou o erro de cálculo feito nos mosteiros medievais, a partir de interpretações bíblicas, para fixar a idade do mundo. Mas se hoje isso é um fato óbvio, na época de Winchester o assunto era um tabu quase absoluto.

Outra curiosidade do texto, é a construção das sociedades científicas da época, sua política de inclusão e exclusão e as fofocas de bastidores das fortunas e dos plágios na Sociedade Geológica de Londres, onde Smith batalhou por reconhecimento público.

Incrível como um livro biográfico, que conta a história da construção de um grande mapa (publicado em 1815, pintado a mão), possa ser tão interessante. A vida de Willian Smith, porém, nada tem de trivial: além das dificuldades inerentes da empreitada a que se propôs por toda uma vida, enfrentou ainda a doença mental de uma esposa ninfomaníaca, desemprego, falência, plágio de seus trabalhos e melhores obras, o repúdio de seus pares, terminando com a superação e o reconhecimento público tanto de suas descobertas como de sua persistencia.

Para mim, filha de uma época onde se supõe que os mapas se originem de fotografias tiradas por distantes e potentes satélites, foi uma surpresa envolvente ler da vida aventuresca dos primeiros exploradores, e das inúmeras dificuldades, mas com uma vivência gloriosa, daqueles que desenharam e pintaram à mão os primeiros completos mapas geográficos/geológicos da era moderna.

(Em compensação, quando terminei a leitura, fiquei um tantinho triste, pensando em quão modesta é a minha contribuição para este mundo, quando comparada com o esforço de um Willian Smith... Esta é a parte "chata" em ler livros escritos com base em eventos reais, porque não consigo me furtar às comparações subsequentes, esta época e aquela época, estes valores e aqueles valores, minha coragem e o desafio de outros. Ainda acho que nasci no século errado.)




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