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domingo, 31 de março de 2013

O BAILE DAS LOBAS, de Mireille Calmel

Claro que escolhi esse livro pelo título!

Sim, também dei uma espiada na capa curiosa, diferente. Chamou a atenção a publicidade indicando mais de 700 mil livros vendidos. Espiei a orelha... livro histórico, eu gosto. Mas, não tem jeito: já tinha decidido comprar o livro, os dois volumes de uma única vez, só de ler o título.

Admiro escritores que conseguem colocar um nome, na obra, que não descreva o romance e ainda assim indique a leitura e chame a atenção. Ainda lembro a discussão da faculdade, sobre "O PENSADOR", escultura de August Rodin (minha professora perguntava, para forçar a reflexão, o quê seria da escultura se tivesse outro título... se Rodan fosse um romântico e a chamasse "arrependimento", ou fosse ele um dadaísta e em alusão à Duchamp, desse nome à obra de "sentado no banheiro".)

Procurei na net alguma informação sobre a escritora, para ver se também ela leu MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS (Clarisse Estés), como eu. Não seria impossível, o romance segue a mesma idéia de liberdade e originalidade, e do desenvolvimento de força e coragem diante do desafio e dos predadores, que encontramos na obra da psicóloga junguiana. Mas, sobre isso, nada encontrei. O pouco que achei sobre a autora, é que Mireille Calmel é importante escritora francesa contemporânea, especializada em romances históricos. O resumo biográfico que existe na Wikipédia faz lembrar a história de Tolouse Lautrec, um talento burilado numa juventude de idas e vindas aos médicos, atormentada por dificuldades de saúde.

Mas o romance, é ótimo.
Para ter idéia, atropelei meus horários, fiquei acordada madrugada adentro e devorei os dois volumes em quatro noites (e quase não consigo trabalhar no dia seguinte... snif). A história é cheia de reviravoltas, Mireille é escritora que dá atenção aos fatos e desenrola sua história como um filme de aventuras. Não tinha jeito: como dormir, sem saber o que vai acontecer na sequência?

A história se passa na França de 1.500 d.C. A  trama é construída sobre dois desejos profundos: o das mulheres lobo, em encontrar o antídoto para a transformação dolorosa daquelas nascidas com o gene que as transforma em lobas no cair das noites de lua cheia.  E o desejo de um senhor feudal prepotente e violento, capaz dos crimes mais hediondos na tentativa de descobrir os segredos da alquimia, aquele que afirmava a existência de um elemento mágico capaz de transformar até as pedras em ouro e ainda propiciar a juventude eterna.

Inicialmente, o senhor feudal é atraído pela beleza de uma das jovens, a quem estupra. Mas na sequência da história, descobrindo os segredos destas mulheres incomuns, imagina que sua transformação seja resultado do mesmo elemento mágico que procura com tanta veemência, ligando seu destino ao das mulheres lobo, que seguiam sua saga atormentada, tentando superar a dolorosa mudança de forma a cada noite de lua cheia. Dos feudos medievais às florestas, dos subterrâneos cavados por piratas até o Pátio dos Milagres e a corte parisiense, a história desenrola rápida entre complôs, vinganças, assassinatos e intrigas, tanto entre poderosos como entre miseráveis.

Embora a história seja deliciosa, e no fim do livro indique as fontes de pesquisa e agradecimentos da autora, verdade que senti falta das curiosidades da reconstituição histórica... A trama passa na região de Alvergne, mais precisamente no castelo de Vollore (modificado no século XVII e atualmente na propriedade de Michel Aubert de La Fayette, como a autora informa no fim do livro), e nas ruínas da fortaleza de Montguerlhe, onde se passa parte substancial da ação. Mas observe-se que o século de que trata a autora, 1500 dC., corresponde ao tempo em que se descobriu o Brasil (onde eu moro!). Talvez por isso, tenha sentido falta, ou de referências às ciências e descobertas da época, ou das interpretações e superstições do populacho. O BAILE DAS LOBAS é surpreendentemente vago em relação à Inquisição, referida apenas em passagens breves e rápidas. Doutro lado, as mulheres são surpreendentemente "modernas" em seus costumes e em sua independência. Fiquei em dúvida, se a França era mais benevolente com suas mitologias pagãs e suas mulheres, do que em outros países, na mesma época (como a lenda das próprias lobas, pela qual segue a trama do livro). É possível... pois a França é a terra dos cátaros, a mais forte e bem desenvolvida "heresia" de toda a Idade Média, não é? Mas fiquei com a sensação de que, se soubesse um pouco mais da história da França e de seu lugar na combativa Idade Média, talvez usufruisse um pouco mais do livro.




   

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