Há
uma artista medieval cuja vida me fascina, mas praticamente não encontro
informações sobre ela. Chama-se Artemísia
Gentileschi, que viveu em plena Renascença, Itália do século XVI, pintou
várias versões de “Judite e Holofernes”, alguns quadros sobreviveram até a modernidade.
Pois
em UM RARO E ESTRANHO PRESENTE (li em português com tradução de Marina Slade,
editado pela Bertrand Brasil em 2008), Pauline Holdstock criou a personagem
Sofonisba apropriando-se do pouco que se sabe da vida de Artemísia, e
inventando toda uma trama ao seu redor.
A
história é primorosa, o texto tem uma linguagem docemente sensual, a Florença
renascentista brota a cada página. A trama tem doses corretas de romance,
estupro, ciúmes, desencontros, reconstituição de época e da paixão dos artistas
pelas cores, formas e descobertas estéticas do Renascimento. Há um feminismo
essencialmente moderno na personagem, mas verossimel pelo pouco que se conhece
da artista que inspirou a trama. Os personagens tem aprofundamento psicológico,
sentimos suas contradições, tão humanas, fluindo pelo texto. Por sua vez, o “raro
presente” é uma história dentro da história, fala de uma moça simples, bela e
meiga, mas com a pele estranhamente marcada, que raptada ainda criança, foi
dada de presente a um nobre como fosse um animal exótico, e passando vários
percalços acaba transferida de mãos em mãos até parar como modelo e criada do
casal protagonista.
Para
quem gosta de literatura e da arte renascentista italiana, esse é um romance
para esquecer do mundo e viajar para outro tempo. Lindo.
E mais, um quadro de Artemísia Gentileschi, que encontrei na Internet para ilustrar esse comentário.
Artemísia Gentileschi |
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