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sábado, 24 de agosto de 2013

A DÁDIVA DO LOBO, de Anne Rice

Consegui!
Eu li!

Tudo começou quando descobri que Anne Rice (sim, acreditam? Ela mesma!) tem uma página no facebook, que passei a seguir. Verdade que não entendo o que ela posta, porque escreve em inglês, e da língua sei pouco mais do quê pronunciar algumas marcas, uma ou outra expressão aprendida nas aulas de inglês do ensino médio e esquecidas nos anos que se seguiram e, quem sabe, contar até dez. Mas, se fico curiosa, uso um tradutor e descubro, como todo mundo faz.

Foi assim que entendi a notícia de que Anne Rice estava lançando seu segundo volume da saga dos lobisomens... segundo volume... SE-GUN-DO????
COMO ASSIM?
Eu nem vi o primeiro!

Aproveitei a hora do almoço, para ir até minha livraria predileta. Consultaram seus arquivos, nada.
Passam alguns dias, e lá estava, no face, mais um comentário e fotos do lançamento do SEGUNDO volume. Fiquei inconformada. Fucei na internet. Não é possível, aqui não é o fim do mundo, nossas editoras tem excelentes tradutores, e Anne Rice tem aqui um público fiel (inclusive EU!), oras!

E enfim, achei. Traduzido, só o primeiro volume, com título A DÁDIVA DO LOBO (leio em português, na tradução de Alexandre D'Elisa, edição de 2012 da Rocco). E tinha na loja virtual da minha livraria predileta... voltei lá. Finalmente, havia entrado no sistema, mas nenhum exemplar na loja. Encomendei. E poucos dias depois, pela primeira vez que lembre, recebi o livro em lançamento antes mesmo do título chegar às prateleiras. Só um volume foi remetido: O MEU! YESSSSS!

Esse eu li devagarinho, que era para durar a semana inteira.
Não foi difícil: na primeira parte da história, o personagem recebe como trágica herança, aquela casa que povoa os sonhos de todo mundo que ama fantasia. Será possível que exista alguém que nunca imaginou ter como sua, aquela casa imensa cheia de segredos, antiguidades, e passagens secretas, guardando ciosa a história de seus antigos moradores, escrita como que em códigos pelos objetos deixados no lugar?

E os lobisomens...
Que delícia, Anne Rice escrevendo personagens mitológicos outra vez!
Poucos autores tem sua capacidade de mostrar a beleza do monstruoso, a beleza crua de uma força quase divina. Se Lestat era o luxo dos veludos, Reuben é o vento gelado nas copas das árvores mais velhas e mais altas. Ambos são diamantes: possuem o raro, dominam o sonho.

Reuben tem pontos em comum com Lestat: a juventude, a beleza, a violência justiceira. Mas é mais... viril, digamos. Já no primeiro livro e desde o primeiro momento, mostra uma maturidade e responsabilidade em lidar com o amor das mulheres, ou seja, bem diferente da dúbia e sensual personalidade do famoso vampiro. Comparando A Hora das Bruxas, as Crônicas Vampirescas e agora a "Saga dos LobosHomens", é impressionante como a autora consegue apropriar, tão bem, o comportamento de cada época.

DÁDIVA DO LOBO é um romance para os tempos atuais, onde o raro é a natureza, o difícil é o amor que aceita desafios, o impossível é a liberdade.


Ainda bem que comprei o primeiro livro, sabendo que há um segundo.
Como em "A Hora das Bruxas", o final da história deixa tantas possibilidades em aberto, que se o segundo estivesse disponível, não estaria aqui escrevendo agora (estava lendo o segundo volume, é claro!)













domingo, 18 de agosto de 2013

SUBLIMINAR, de Leonard Mloginow

Já no prefácio, o autor nos explica que:

  • "A ciência da mente foi reformulada por uma nova tecnologia específica, surgida nos anos 1990. Chama-se ressonância magnética funcional, (...) O resultado de aplicações como essa é uma transformação tão radical quanto a revolução quântica: uma nova compreensão de como o cérebro funciona e do que somos como seres humanos."

(leio em português, na tradução de Cláudio Carina, edição de 2012 da Zahar Editores, transcrição de "prefácio", respectivamente pg 10 e 11).

A síntese desta pesquisa tão recente quanto revolucionária, é até bastante simples.

Ao mapear o funcionamento do cérebro, cientistas estão concluindo que nossa função cognitiva (ou seja, aquilo que conseguimos conscientizar, de uma forma racional e lógica) talvez não ultrapasse 5% da atividade do cérebro. Os outros 95% são atividades imprescindíveis à sobrevivência humana, mas ocorrem de forma inconsciente, sem que deste trabalho tenhamos consciência.

Embora a informação pareça chocante na primeira leitura, logo constato que é uma conclusão lógica e pertinente. A quantidade de informações que cada um dos nossos sentidos recebe da realidade, ininterruptamente, é absurda, imensa. Se qualquer um de nós precisasse conscientizar todas estas informações, para selecionar e discriminar a importância de cada uma delas tanto no sentido da sobrevivência como do funcionamento do corpo, estaríamos em estado catatônico até antes de nascer. O que o mapeamento cerebral está descobrindo, é de uma eficácia sensacional. Do funcionamento interno do corpo, com todos os órgãos e detalhes que a gente mal sabe que tem, e de sua interrelação e comunicação com todos os elementos do mundo exterior imprescindíveis à sobrevivência, inclusos os instintos, o cérebro nos mantém vivos sem que sequer sejamos capaz de perceber a relevância de tanta informação e trabalho.

Mas SUBLIMINAR vai adiante deste ponto, focando as experiências e pesquisas que abordam como formamos nosso pensamento consciente, e a proporção de elementos decisórios inconscientes permeiam cada decisão que - supomos -, sejam tomadas de forma racional.

Isto faz com que o livro tenha uma proposta ousada, relatando e interpretando inúmeros experimentos laboratoriais visando localizar elementos inconscientes determinantes nas decisões conscientes. Alguns destes experimentos são contemporâneos, mas há várias pesquisas precedentes à tecnologia de mapeamento, agora reinterpretadas à luz dos novos conceitos.

Entretanto, sendo sincera, gostei mais do livro pelo "potencial" das pesquisas que ainda poderão ser realizadas neste contexto, e pelos conceitos gerais, do quê pelas experiências efetivamente realizadas, ou de sua análise e interpretação.
Fiquei com a sensação de que "duas décadas", para tão revolucionária tecnologia, é pouco tempo de pesquisa.

Outro ponto interessante, mas um tanto confuso, é o fato dos cientistas ainda utilizarem o termo "inconsciente", para especificar a atividade cerebral realizada sem a consciência racional. Ocorre que este termo, o "inconsciente", foi dogmatizado há mais de século, por Freud, para significar episódios traumáticos e/ou de cunho sexual, esquecidas como tal nas memórias da experiência dos pacientes em estudo, e que ressurgiam na forma histérica ou paranoica.

Ou seja: embora o termo seja o mesmo - inconsciente -, são duas interpretações e dois contextos diversos. Tão diferentes, que sequer podemos dizer que sejam opostos entre si. São diferentes, ponto final. O que causa alguma confusão, ainda que a explicação seja dada logo no início do livro.

Por todas estas razões, SUBLIMINAR é um excelente livro para quem gosta de acompanhar e "estar antenado" com as pesquisas de ponta da tecnologia comportamental contemporânea.
Porém, não vejo o texto como um "livro definitivo", acredito que a parte prática, de pesquisas e conceitos, ainda tenha um longo caminho a prosseguir, além de uma metodologia compatível a desenvolver.



O SANTO GRAAL, de Michael Baigent, R. Leigh e H. Lincoln

Já conhecia por fama O SANTO GRAAL, A LINHAGEM SAGRADA, originalmente publicado em 1982 por Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, da leituras em críticas a outro famoso livro - O CÓDIGO DA VINCI (diz-se que Dan Bronw criou sua popular saga, com base na pesquisa de O SANTO GRAAL). Porém, na época, não encontrei esse título disponível, ainda que as prateleiras das livrarias tivessem multiplicado títulos sobre o mesmo assunto, a maioria livros posteriores que se dedicavam a encontrar "erros" no livro que se tornou tão popular, que até virou filme.

Mas dizem os esotéricos, o mestre aparece quando o aluno está pronto. Não tenho nenhuma justificativa esotérica para ter encontrado o livro "agora", mas essa explicação me parece tão plausível como qualquer outra. Talvez seja apenas que as prateleiras de sebo são mais objetivas em selecionar os livros bons para mim, do quê as mesas de lançamentos dos títulos novos. Ou não, vai saber? (leio em português, tradução de Nadir Ferrari, edição PocketOuro da Ediouro Publicações Ltda).

Controvérsias à parte, considerei a leitora de O SANTO GRAAL como uma continuação obrigatória para quem gostou do EUNUCOS PELO REINO DE DEUS, de Uta Ranke - Heinemann. Pois enquanto este último pesquisa sobretudo as adulterações do dogma na construção do poder da igreja católica, o GRAAL pesquisa a parte mais herética do mesmo conceito, nas entrelinhas dos fatos expurgados da história.

 O SANTO GRAAL, A LINHAGEM SAGRADA é uma extensa pesquisa, permeada de uma longa lista de hipóteses elaboradas, partindo de um curioso e até hoje inexplicável evento ocorrido no sul da França, na cidade de Rennes-Le-Château, envolvendo o padre Berenger Saunière.

A primeira vez que ouvi falar desse episódio, foi lendo a ficção de KATE MOSSE (que embora tenha lido, em algum lugar, que a autora escreveu uma trilogia, verdade que aqui na minha cidade só chegaram dois volumes: o SEPULCRO e o LABIRINTO, ambos ótimos!). E somando o que já li a respeito, fico sabendo que Rennes-Le-Château é uma pequena cidade francesa para onde, em julho de 1885, foi nomeado um pároco de nome Berenger Saunère, pessoa que indicava uma brilhante carreira eclesiástica, mas que, ao contrário, foi afastado para uma paróquia menor, quiçá  por desagrado ou controvérsia com algum superior.

Ocorre que, nos anos que se seguiram, Saunière enriqueceu muito além do quê seria o possível com seu parco salário de pároco. Diz-se que encontrou um tesouro, talvez dos cátaros, ou quem sabe dos templários. Com esse dinheiro surgido de forma milagrosa, o pároco fez reformou a igreja local, dedicada a Madalena, entre outros gastos que comprovavam seu enriquecimento surpreendente, além de proteger sua companheira, que apresentava-se como governanta. Saunière faleceu sem contar a ninguém seu segredo, e o mesmo o fez sua governanta. Além de Saunière, não se conhece outra pessoa que tenha encontrado ou usufruído do mesmo tesouro.

Deste episódio inicia a pesquisa de O SANTO GRAAL - e são muitas!

No livro, os autores fazem uma distinção curiosa: partindo do (conhecido) cisma entre os discípulos e Maria Madalena, registrado até nas escrituras, elaboram a hipótese de que, após o episódio da crucificação, o cristianismo ainda incipiente tenha se dividido em dois grupos distintos e mais das vezes rivais, a. que nomina "os seguidores da mensagem" e "os seguidores da linhagem".

Como "seguidores da mensagem", os autores identificam as figuras histórias que todos conhecemos (mas com alguns detalhes que não conhecemos...). São os evangelistas autorizados pelo poder oficial, os pensadores da teologia, os santos doutrinadores, os papas e as determinações da Igreja uniformizadas nos concílios.

Por sua vez, os "seguidores da linhagem" são pesquisados nos detalhes de documentos antigos, nas heresias cátara e templária, nos livros proscritos da igreja, alguns evangelhos apócrifos encontrados em sítios arqueológicos, publicações medievais monásticas posteriormente proscritas pela própria igreja, dados históricos das dinastias reais europeias e de sua linhagem, e claro, os costumes judeus da época de Jesus, que elucidam o verdadeiro significado de passagens cuja leitura é dúbia nos evangelhos oficiais.

Assim, o livro se torna obrigatório a quem interesse conhecer as principais heresias tão combatidas, a ferro e sangue, pela igreja medieval. Destaco, o conceito de que Jesus era um profeta humano (não um deus encarnado), as diferentes - e detalhadas - hipóteses de fraude na crucificação (que, assim como a entrada sobre um asno na cidade, eram parte de uma profecia judaica), a posição de Jesus como rabino em sua comunidade, e consequentemente de seu casamento - possivelmente com Madalena -, e de sua paternidade e posterior dinastia (ao contrário da castidade cerimonial, um conceito pagão inexistente na ortodoxia judaica da época).

Talvez porque nenhuma das hipóteses levantadas seja conclusiva, o texto foi construído com uma linguagem fascinante. A extensa bibliografia dos documentos pesquisados, assim como um resumo da biografia das personalidades citadas, foi deixada em anexos. Isso torna a leitura, quase um livro de aventuras, um texto linear, sequencial, apaixonante.

Também pertinentes as perguntas com que o livro encerra seu relato.
Hoje, a revelação de que Jesus era homem casado, com filhos, teria real importância? Os autores questionam se tal revelação não resultaria, para a maioria das pessoas, em um ombrear e a simples pergunta "E daí?".

Quer saber?
Concordo com os autores.
Talvez nos primórdios do cristianismo, quando até os imperadores romanos eram revestidos com uma aura divina, e a mitologia era rica e detalhada, fosse imprescindível dar ao messias as características de um deus. Mas hoje, nesta nossa sociedade pasteurizada pela ciência e pelo capitalismo, os mitos antigos perderam a força dos dogmas de fé. Algo a pensar...









MUSEU, de Véronique Roy

Minha mãe dizia, e sempre concordei: é tão gostoso sair para viajar, quanto o é o voltar para casa. No universo da literatura, adapto o conceito, e afirmo: ó outro prazer tão grande quanto ser surpreendida com uma ideia inusitada, é ler em bom texto uma confirmação daquilo que já imaginava.

Ao contrário do pensamento "politicamente correto", nunca achei que só podemos sonhar com aquilo que será possível transformar em realidade (ou, na sua contraparte, que não deveríamos sonhar com o que não é possível, viável). Para mim, isso não se chama "sonhar", mas apenas traçar metas, objetivos.

Sonhar, é mais amplo. Não tem fronteiras, e meu objetivo é, exatamente, transcender os limites da realidade. Mesmo porque, uma vida é muito pouco tempo para viver tudo de interessante que existe neste mundo.

MUSEU foi um destes prazeres (leio em português, na tradução de Flávia Nascimento, 2ª edição de 2009 da Editora Bertrand Brasil).

Claro que já imaginei como seria trabalhar em um grande museu, embora só tenha entrado em algum como visitante. E foi delicioso encontrar no livro, exatamente a ideia que fazia sobre como seria trabalhar dentro de um deles. Um prédio imenso. Corredores inacabáveis. Passagens secretas, Tantas salas que o prédio mais parece um labirinto. Um número exorbitante de valiosas peças, algumas expostas, ainda mais antiguidades guardadas, tantas outras perdidas numa (des)organização que parece impossível de resolver. Um lugar, que é antigo, e que é novo, ao mesmo tempo. Pessoas que de tão inteligentes tornam-se extravagantes, as picuinhas acadêmicas e as rivalidades previsíveis de quem trabalha junto por muito tempo, e no templo da ciência a pergunta eterna: crer ou não crer?

O prédio do romance, é o Museu Natural de Paris (Museu Nacional de História Natural de Paris), onde a autora Veronique Roy trabalhou muitos anos (não sei quantos, mas a informação está na orelha). A nota da autora, ao fim do livro, informa que as personagens e situações da obra são pura ficção, mas os elementos de debates científicos são inspirados nos escritos de professores então nominados, com indicação dos respectivos departamentos.

Aliás, os debates também são interessantes.

A trama - e a questão de fé -, gira em torno de tema bastante contemporâneo: há vida fora da terra? Quando e onde surgiu a vida? A vida foi trazida para o nosso planeta, vinda de outro lugar?

Na história, tudo inicia com um meteorito, que caído na terra, pode ser a prova de nossa origem extraterrestre, por conter princípio de vida. São convocados dois cientistas de renome e ampla cultura, um deles de carreira eclesiástica, para proceder aos estudos conclusivos. Mas a chegada dos cientistas para o estudo do tal meteorito, coincide com uma importante exposição de caros diamantes, e uma série de assassinatos de funcionários de vários escalões do museu.

A autora utiliza, com sucesso, a multiplicidade de informações e opções para manter o interesse da leitura. Enquanto o ambiente singular desperta a imaginação, todas as hipóteses são viáveis: assassinatos por interesse econômico, científico, oportuno, ou serão rivalidades? Só aos poucos a trama revela que o assassino é um funcionário do lugar, e sua possível motivação fundada na busca de provas a dogmas de fé.

Assim somos apresentados aos personagens, seguindo a regra geral de que, de perto, ninguém é normal.



sábado, 10 de agosto de 2013

COMO FALAR DOS LIVROS QUE NÃO LEMOS? de Pierre Bayard

Este foi um livro que comprei pelo título...
Não tinha ideia sobre como o autor desenvolveria o tema. Foi um risco: podia ser um livro ótimo, ou dinheiro jogado fora. (li em português, na tradução de Rejane Janowitzer, edição de 2007 da Editora Objetiva).

Pois não é que o livro se tornou uma referência?

Depois de ler COMO FALAR, não havia outra opção senão concordar com o autor.
Ele divide o livro, basicamente, em dois conceitos: os livros que a gente não leu, mas conhece. E os livros que a gente leu... mas esqueceu.

Na minha primeira aula de História da Arte, caloura da faculdade de esculturas, o professor fez uma "pegadinha" no mesmo sentido deste livro. Pediu aos alunos que levantassem a mão, quem conhecia a história de Romeu e Julieta de Shakespeare (ou será que era o Don Quixote, de Cervantes?).
Todo mundo levantou a mão.
Então, ele perguntou quem havia LIDO a obra original.
A única mão que permaneceu levantada, era um de colega que também fazia uma faculdade de letras.

Inúmeros são os livros que a gente nunca leu, mas conhece, e disso trata COMO FALAR.
Livros que nos contaram a história. Livros que foram filmados. Livros sobre os quais lemos resenhas, críticas, comentários. Livros que a gente "conhece", sabe de sua importância e em linhas gerais do quê trata... e nunca os leu!

Mas tem mais.

COMO FALAR também trata dos livros que a gente leu, inteirinho... e esqueceu a maior parte. Aliás, a maioria. Para mim, que leio como quem toma água, essa parte final do livro foi hilariante, não teve comentário com o qual não me identificasse.

Pior foi constatar que o autor tinha toda a razão: a conclusão final é que, da maioria dos livros que eu li, a memória guardou pouco mais do que uma resenha da história como um todo, e a sensação de prazer (ou não) do tipo de narrativa e/ou texto utilizado pelo autor. Muito menos do que gostaria de reconhecer.

Seja como for, COMO FALAR é uma leitura muito interessante para quem vive em uma época onde conseguir selecionar o que presta em uma massa imensa e amorfa de informações, parece ter mais valia do quê o conteúdo do que é informado. E é uma leitura tranquilizadora, daquelas que nos faz sentir "normais", mesmo quando a memória prega peças e nos faz esquecer o nome de um livro maravilhoso, ou do autor que acompanhamos com carinho.





A MELHOR HISTÓRIA ESTÁ POR VIR de Maria Dueñas

Ler Maria Dueñas é sempre um prazer! (leio em português, na tradução de Sandra Martha Dolinsky, 1ª reimpressão da Editora Planeta de 2012).

De certa forma, a leitora de A MELHOR HISTÓRIA ESTÁ POR VIR, lembra um pouco o texto de  LIVRE, A JORNADA DE UMA MULHER EM BUSCA DO RECOMEÇO, de Cheryl Strayed.

Ambos falam da história de uma mulher que, em determinado momento, deixa tudo para trás e parte (ou melhor seria dizer, "foge") para uma aventura que não tenha referência com qualquer coisa de seu passado. Mas isso, claro, respeitadas as diferenças. Enquanto "Livre" traz uma história real, "A Melhor História" é ficcional. E ainda: "Livre" é a história de uma jovem de 22 anos que pela morte ou pela distância, perde sua família. Mas "A Melhor História" é sobre uma mulher, recém divorciada e com filhos adultos e independentes, que não suporta mais a vida que havia criado para ela mesma.


Você, leitor, já passou por essa situação, de questionar se fez mesmo as melhores escolhas, ou mesmo tendo certeza delas, da insatisfação com o resultado obtido?
Se a responsa for positiva, leia A Melhor História.

Fique tranquilo, nenhuma tragédia, a personagem PENSA antes de fechar a porta de casa e deixar o passado para trás. Usa as condições que tem, como professora universitária capacitada, para conseguir uma bolsa em uma instituição distante, e mergulhar nos arquivos desordenados de um falecido e importante professor universitário, para resgatar a memória de alguém em outro país e em outra realidade. Uma mudança de rumo que, por óbvio, não poderia ter outro resultado senão... mudar de rumo.

Esse é o meu prazer pessoal de ler Maria Dueñas.
Leio, quando preciso de uma fantasia que não seja tão "fantasiosa" assim, só o suficiente para olhar minha própria vida com todas as suas opções. As personagens de Dueñas são impressionantemente verossímeis. Poderia conversar com qualquer uma delas, ali na cozinha de casa. E o texto, é um deleite. Dueñas revela aos poucos. Os segredos mais interessantes, como diz a capa do livro, estão ali adiante, misturados com um serviço aparentemente chato, até burocrático. Basta olhar, basta ver a pontinha do papel tão especial, pulando adiante de todo o papel envelhecido e esquecido. Basta olhar para o lado, olhar em volta... olhar em frente.


É uma história muito contemporânea: fala do nosso amor ao passado, e de entender nossa história recente como ela realmente aconteceu, vivida por seres que eram falíveis como nós, e idealistas como talvez jamais seremos. Dos encontros e dos desencontros amorosos, e de como o amor pode não sobreviver aos papéis sociais, ao mesmo tempo em que sobrevive aos fatos.




A DESCOBERTA DAS BRUXAS e SOMBRA DA NOITE de Deborah Harkness

Ah, como eu AMO! histórias que continuam!
Tem alguma coisa melhor que reencontrar personagens interessantes, em uma nova história?

Adoro livros em série: Anne Rice (as bruxas, os vampiros), Marion Zimmer Bradley (Darkover).
Agora, estou acompanhando Deborah Harkness (leio na tradução de Márcia Frazão, ambos em edição da Rocco, sendo A DESCOBERTA DAS BRUXAS edição de 2011,  e SOMBRA DA NOITE edição de 2012).

Se pensa em começar a ler estes romances, não se impressione com o que parece a proposta inicial, um amor entre uma bruxa e um vampiro. Nem Diana é uma bruxa "normal", tampouco Matthew é um vampiro habitual. E sem dúvida, é um livro mais indicado para as mulheres que se identificam como "bruxas".

Os livros tem uma boa base em pesquisa sobre os alquimistas medievais. O ponto de empatia entre a personagem Diana e suas leitoras (no caso, "eu"), está em focar uma mulher moderna, constrangida em falar de poderes antigos e mágicos, que não consegue fazer os mais elementares feitiços e por isso sente-se insegura, acaba trilhando o seguro caminho do conhecimento acadêmico proposto pela ciência moderna... e de repente, o chamado à aventura é tão forte que não pode ser ignorado.

O primeiro livro, A DESCOBERTA DAS BRUXAS, passa-se na era contemporânea. e Diana, uma bruxa de uma família de bruxas, mas que renega seu passado, é uma pesquisadora que se depara, por acaso, com um livro mágico. Isso a leva, sem que entenda o porquê, a ser perseguida por outras bruxas, e aos braços do vampiro que, por algum tempo, não se sabe se será um protetor ou um perseguidor.

Sinceramente, achei o primeiro livro mais cansativo que o segundo. As concepções, a pesquisa e a ideia da escritora não ficam suficientemente claras no primeiro livro e, por isso, há momentos em que parece uma fantasia desvairada ao estilo Harry Potter para adultos. Vou confessar: li o livro porque a narrativa era interessante, mas foi um daqueles textos que li rápido porque queria saber o final.

Conclusão?
Tive que reler A DESCOBERTA DAS BRUXAS, quando comprei  A SOMBRA DA NOITE porque, neste sim!, havia toda a pesquisa da Idade Média, suas superstições, personagens históricos da pesquisa científica "alquímica" e um conceito de bruxaria que fazia sentido, ainda que ficcional.

A SOMBRA DA NOITE é uma viagem no tempo. Diana e seu amor vampírico voltam aos tempos medievais, fugindo da ameaça de morte que paira sobre ela e sua família nos tempos contemporâneos. É um mergulho em uma Idade Média onde humanos e criaturas convivem, sem que aqueles de fato reconheçam a existência destes. Demônios, Bruxas e Vampiros formam os três grupos de criaturas que se relacionam, e procuram formas de sobrevivência com humanos em um mundo sempre conturbado pelos interesses pessoais e pela política reinante.

E agora... falta o terceiro volume, não é?
Aguardando edição!












BRUXOS E BRUXAS, de James Patterson e Gabrielle Chabonnet

Lembro até hoje de uma matéria publicada quando a saga "Crepúsculo" ganhou notoriedade, que dizia: se você não conhece a história, sua filha com certeza a conhece.

Foi o que lembrei, quando passei pela livraria e vi, com uma capa habitual aos livros com temas de bruxarias - bastante "adulta", por sinal -, um livro intitulado BRUXOS E BRUXAS, subtítulo "Livro Proibido pela Nova Ordem", referências de orelha que sugeriam uma história de livre interpretação do 1984 de George  Orwell, e uma ressalva "proibitiva" para os "adultos"... (leio na tradução de Ana Paula Corradini, edição de 2013 da Editora Novo Conceito).

Acho que a conjugação "proibido" e "livros", é sempre fascinante.
Quem gosta de ler, e não gosta de "livros proibidos" (ou livros sobre "livros proibidos"), que jogue a primeira pedra!
Comprei, claro.

A história é interessante, mas manipulada a partir de (visíveis) conceitos do-que-funciona na propaganda, que tenho lá minhas dúvidas se realmente funcionam... Opinião pessoal, não que esteja desmerecendo a importância da mídia para alavancar as vendas de um livro, mas realmente acho que funcionam melhor quando acontecem "ao redor" de um livro, do que quando consideram o próprio livro como um produto. Sou suspeita para opinar... mas, para mim, ficou visível "demais", no texto, onde estava a história e onde estava a mídia. E verdade seja dita, não tive tempo suficiente prá pesquisar, na Net, se este livro fez o sucesso que se esperava, ou não.

Feita a ressalva, a história é bacana.
Se vou me ofender pela insinuação ostensiva de que os adultos são mais manipuláveis pelo "sistema", do que as crianças e os jovens? JAMAIS! Ao contrário, até acredito que o conceito de "maturidade" esteja intimamente ligado à capacidade de se adaptar (e até mesmo, a acreditar ou a obedecer) o que quer que seja o sistema dominante vigente à época de nossa vida adulta.

A parte boa foi rever, em nova linguagem, ideias de autores clássicos da ficção nas entrelinhas de um texto publicitário "para jovens". Lá está, implícito, o "1984" de George  Orwell com seus adultos amedrontados, quase hipnotizados pelo "sistema" dominante.
Toda a história é dominada pela magia, mundos paralelos e o grande desafio da luta do bem contra o mal, uma luta de poder e dominação. O texto é de fácil leitura (li em uma noite).


Depois de ler o livro, lembrei de quando criava minha filha... Fiz o máximo possível para ser uma "mãe normal" (sem muito sucesso, se for para confiar na opinião dela), mas não queria uma filha conformada.. Se ainda estivesse nesta fase, este era um livro que eu daria para ela: tenha seu pensamento independente, seria a mensagem deste "livro-presente". Nada mal, afinal.







MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SÉCULO XXI

Pobre blog, quase abandonado, nem sei há quanto tempo!

Gostaria de dizer que foi por uma boa causa, mas não tenho certeza se realmente o foi... Nestas semanas, trabalho MUITO estressante, preferi enfiar a mão na argila porque antes de fazer qualquer imagem, a gente soca, soca, soca, e parte do stress e da raiva vai junto com o trabalho cansativo. Não fiz nenhum trabalho extraordinário, apesar disso. Fiz um casal em pose erótica, quase uma homenagem a um garoto bonito que conheci na internet, e protegida pela distância, tornou-se uma fantasia criativa. Como costuma acontecer com essas amizades virtuais, perdi o contato, então fiz uma segunda peça, o rosto de uma personagem, quem sabe assim me animo a voltar a escrever o texto.







Porque neste meio tempo, também peguei aquele experimento, de escrever um romance na forma de contos, e coloquei, no tamanho que estava, em um concurso local. Claro que sei, não faço parte "do meio", não tenho chances de premiação. Mas colocar em concurso, foi como dar um ponto final em algo que, na verdade, deveria continuar. Pois é... Nunca soube direito como exercer vários papéis ao mesmo tempo. Ao enfrentar a burocracia, repassar o texto para a formatação determinada, fazer cópias e preencher formulários... lá se foi a artista, aqui veio a burocrata, e a inspiração se perdeu no meio do caminho. Como disse, sem querer me repetir, o jeito foi mudar de rumo e "sovar argila" por algum tempo, até que conseguisse me reconhecer outra vez.

Com "pontos finais" ou sem "´pontos finais"?
Boa pergunta.
Há momentos em que converso comigo, tentando me convencer a aceitar minha dificuldade com os "pontos finais" nos projetos de arte. Eu não os termino, mesmo quando termino. Eu volto, faço outra vez. Produzir arte, para mim, é como uma fuga de Bach: pego o tema, não largo mais, fico fazendo variações, cada vez mais complexas, ou cada vez mais simples.

Mas serve como consolo, saber que esse círculo vicioso é um comportamento localizado, só acontece com meus projetos particulares em arte. Na vida, coloco pontos finais com uma facilidade que já espantou amigos, espalho a poeira e sigo em frente. E por falar em seguir em frente, quero baixar um pouco a pilha de livros a comentar, que acumulei nestas semanas. Vamulá?