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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SÉCULO XXI


Hoje a televisão anuncia a renúncia do Papa Bento XVI, a ser formalizada em 28 de fevereiro de 2013, agora, próximo. A primeira coisa que pensei, foi com que rapidez consegui substituir a previsão do fim do mundo maia, que não se concretizou no final do ano passado. Andava me sentindo meio vazia, desde que o (tão inacreditavelmente distante) 21 de dezembro de 2012 chegou, passou, e não teve nem uma catastrofezinha michuruca prá animar a platéia.

Não me entendam mal. Não tenho nenhuma predileção por notícias traumáticas, e sou daquelas capazes de trocar de canal no jornal televisivo diário, quando suas notícias mais parecem as de um jornal sensacionalista dos crimes do bairro. Era mais uma questão de costume, mesmo. Acho que vivi minha vida adulta, aguardando o malfadado fim do mundo. Esperei a virada do milênio, o Bug do ano 2000, o apocalipse de 2001. Achava mais provável o primeiro, o segundo já andava desacreditado mesmo naquela época. Depois, escolhi as profecias maias. Com elas, a humanidade não se extinguiria, a previsão somava apenas uma sucessão de catástrofes naturais mudando a configuração do mundo. Tinha, então, a vantagem da demora, mais de uma década para ler e devanear sobre uma época devastadora e um recomeço rudimentar. Porque é isso que as profecias de fim de mundo sempre significaram para mim: começar outra vez, num mundo mais rústico, diferente, um futuro com ares do passado.

Quando "nada" aconteceu, fiquei um tantinho desnorteada. Não porque acreditasse, com indignação, na veracidade da interpretação profética. Nem as latas de feijoada e legumes, e o estoque de vinho e cigarro que havia programado manter nos armários, cheguei a fazer. Na verdade, no dia fatídico, estava sentada no sofá assistindo a uma prosaica televisão, usufruindo os primeiros dias de férias no esgotamento físico e mental característico, pensando em como me arrependeria da falta de provisões se por algum destino azarado realmente acontecesse alguma catástrofe.

Mas ficou um vazio, aquela sensação de chegar no fim de um livro interessante, de quando sobe o letreiro de créditos do filme findo, do momento inevitável em que o garçon traz a conta e constatamos que foi tudo muito bom, excitante, mas terminou. Essa a tristeza das fantasias com hora marcada para terminar.

E eis que, hoje, assisto ao anúncio de que Bento XVI renunciou ao papado. O filme recomeça, portanto, com as profecias de Malaquias, que previu ao próximo - Pedro Romano -, o último papado contemporâneo a grandes mudanças, grandes catástrofes, uma espécie de fim do mundo, a queda da igreja e o vazio do Vaticano.

Acontecerá?
Não sei. Há tanta rotina na minha vida cotidiana, que agora confundo realidade e fantasia para ver se consigo resistir ao tédio. Uma confusão agora deliberada, pausada, decidida com vagar. Uma confusão saboreada como um bom texto literário, sem pudor, pronto para ser transformado em novas idéias, contos, romances, telas e desenhos, toda vez que houver um tempo livre em que eu possa me recolher como um ermitão, como neste Carnaval. Adeus, Maias.Bem vindo, Malaquias. O futuro pertence, agora, à imaginação.

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