Tento disfarçar os olhos de desejo, a insegurança, o tremor no corpo cada vez que o vejo. Mas dificilmente consigo. Acabo tomando uma atitude, um pretexto qualquer, e mesmo sem saber se estou agindo certo ou errado, aproximo novamente. E brigamos, novamente.
Poucas pessoas, eu o apresentei. Amigos meus, a maioria, sequer sabe seu nome, ou que ele existe na minha vida. Ele é meu homem das sombras, de quem lembro cada milímetro do corpo, com quem partilhei prazer e os sonhos mais loucos, e ainda assim ele não foi mais que a sombra discreta e marcante, que ninguém viu direito, e que não consigo esquecer.Mesmo assim, ainda tento. Apenas para poder ver, mais uma vez, seus olhos, as idéias tão originais. Há nele aquele misto de solidão e orgulho que me fascina, sua mente alerta a cada gesto, cada imagem, a carência de quem tudo compreende, que dá vontade de proteger e de aninhar tudo aquilo que o faz distante, autoconfiante e alheio a tudo, exceto naqueles momentos...
Aqueles... momentos...
(Elaine Novaes Falco, Confissões, 1998)



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