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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CONFISSÕES [3]

Tento disfarçar os olhos de desejo, a insegurança, o tremor no corpo cada vez que o vejo. Mas dificilmente consigo. Acabo tomando uma atitude, um pretexto qualquer, e mesmo sem saber se estou agindo certo ou errado, aproximo novamente. E brigamos, novamente.
Poucas pessoas, eu o apresentei. Amigos meus, a maioria, sequer sabe seu nome, ou que ele existe na minha vida. Ele é meu homem das sombras, de quem lembro cada milímetro do corpo, com quem partilhei prazer e os sonhos mais loucos, e ainda assim ele não foi mais que a sombra discreta e marcante, que ninguém viu direito, e que não consigo esquecer.
Há homens que compreendem mais que o corpo de uma mulher: compreendem sua essência. Presentes do destino, anjos noturnos para quem abrimos os braços, pernas, mentes e fantasias. Como um sonho. A noite o traz, a manhã o leva embora. Houvesse uma maneira de parar o tempo no passado, retê-lo ao meu lado, o faria indefinidamente.  Como prender um sonho? O amor que só faz sentido enquanto livre, deixa o gosto amargo de querer reter o que não existe, de uma liberdade frustrante.
Mesmo assim, ainda tento. Apenas para poder ver, mais uma vez, seus olhos, as idéias tão originais. Há nele aquele misto de solidão e orgulho que me fascina, sua mente alerta a cada gesto, cada imagem, a carência de quem tudo compreende, que dá vontade de proteger e de aninhar tudo aquilo que o faz distante, autoconfiante e alheio a tudo, exceto naqueles momentos...



Aqueles... momentos...




(Elaine Novaes Falco, Confissões, 1998)

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