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quarta-feira, 17 de abril de 2013

O CONQUISTADOR, de Federico Andahazi

No rol das perguntas sem resposta, há algumas de que gosto muito: como seria nossa vida, se no passado os vencidos tivessem sido conquistadores, e os conquitadores fossem os vencidos? Ou ainda... Daqui a séculos, quando pouco ou nada restar da memória da civilização que vivemos hoje, como serão interpretados os cacos porventura desenterrados de nossas ruínas?

Esta foi a graça em ler O CONQUISTADOR, de Federico Andahazi (leio em português, na tradução de Antônio Fernando Borges, edição de 2007 da Editora Planeta). A história é construída sobre uma pergunta intrínseca: que civilização viveríamos hoje, se no lugar dos espanhóis/europeus a conquistar a civilização mezo-americana, tivesse sido o contrário?

O livro é relativamente curto, rápido de ler, instigante. Mas confesso: gostei mais dos dois livros anteriores do mesmo autor, O ANATOMISTA e CIDADE DOS HEREGES. Talvez porque nos primeiro livros de Andahazi que eu li, o autor conseguiu me surpreender, criou hipóteses que eu não havia pensado ainda. Comparativamente, O CONQUISTADOR é uma história linear, que se mantém inteira dentro dos limites já esboçados no título e orelha do volume.

O curioso da história, é que Andahazi a constrói tornando as duas civilizações - mezoamericana e européia -, muito parecidas em essência, embora muito diferentes na aparência. Há passagens que são engraçadas (pelo menos o foram para mim, que sempre questionei a liberdade com que certos arqueólogos e historiadores interpretam símbolos e imagens encontradas em escavações de sítios arqueológicos). Lembram aquele comentário antigo, de que não sei a fonte, sobre a identificação dos canibais brasileiros com os portugueses recém chegados, ao assistir a "primeira missa" em terra e entender que estes últimos, como ele, também "comiam a carne e bebiam o sangue" de seu deus.

Este o espírito de O CONQUISTADOR, uma histórica ficcional onde o "cristovao colombo" é um mezo americano que, na roupagem das tribos maias, enfrenta as mazelas de uma sociedade muito similar aos próprios europeus. Também este aventureiro depende das benesses de seu imperador. Também este aventureiro afronta a idéia preconcebida de que a terra é chata e termina em despenhadeiros sem fim.

A história é permeada de comparações provocativas e curiosas das duas civilizações, algumas expressas, outras subliminares. Andahazi compara o que se sabe dos rituais de sacrifício das culturas mezoaméricas, com a Santa Inquisição do Ofício Romano, interpreta pelos olhos do estrangeiro o aparente politeismo das igrejas cristãs e sua profusão de imagens de santos e mártires, perfazendo uma volta ao mundo, uma pequena nota de romantismo e uma grande epopéia, ao final destinado ao esquecimento e ao ostracismo.




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