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quarta-feira, 17 de abril de 2013

O TEMPO ENTRE COSTURAS, de Maria Dueñas

Foram poucos os romances que li, ambientados na II Guerra Mundial. Para O TEMPO ENTRE COSTURAS, de Maria Dueñas, abri uma exceção (leio em português, na tradução de Sandra Martha Dolinskym 6ª reimpressão da Editora Planeta em 2013).

Já tinha visto o livro, quando era lançamento. Um texto longo, que num primeiro olhar, optei por não escolher. Mas semana passada, lá estava eu de volta à livraria, em busca de algo à altura do meu mantra de consumo, uma história "tão fascinante que não pudesse viver mais um dia se não começasse a ler imediatamente". Olhei os lançamentos, mas nada empolgou. E tanto zanzei, que lá veio um vendedor tão solícito, que não me surpreenderia se estivesse começando no emprego. Achei graça em seu esforço (não solicitado, aliás...) para entender o que eu procurava. Acho que resolvi testá-lo, já que me seguia pela loja como fosse eu a única cliente por ali (e não era!). Fui fazendo vínculos, comentários, olhando títulos que já li, falando do que gostei e o que não interessava, e até quais autores espero lançamento de novos títulos. Este último, quando passei por Zafón (sim, já li todos os que tinham à venda ali). Então, o rapaz correu atrás dos livros de Maria Dueñas, porque a prosa desta autora é constantemente comparada à de Zafón. E como desta autora eu ainda não tinha lido nada, recomendou o livro primeiro, O TEMPO ENTRE COSTURAS, considerado sua obra prima, pelo menos até agora. Serei sincera: era visível no garoto, o interesse em conhecer seu trabalho, fossem os livros que vendia ou os interesses das pessoas que atendia. Então abri a segunda exceção, e aceitei a sugestão, apesar que a conjugação capa + orelha ainda não houvessem me entusiasmado para o livro que, sozinha, talvez não tivesse comprado.

Mas foi uma boa sugestão!

O romance conta a história de uma fictícia costureira espanhola, no período da guerra civil espanhola e subsequente II Guerra Mundial.
Porém, surpreendentemente, é o amor por um estelionatário sensual que faz essa jovem talentosa e humilde, largar Madri, mãe, amigos e conhecidos, e seguir em viagem romântica para a África, mais precisamente para o Protetorado Espanhol no Marrocos, em um sonho de fadas que termina abruptamente com a fuga do amante, dívidas enormes que ela nem sabia que existiam e um delegado pronto a jogá-la na prisão. E são as conturbações da grande guerra que, ao final, permitem que a moça permaneça solta e recomece sua vida, ainda que de forma limitada e vigiada, enquanto o mundo convulsiona com problemas maiores e mais complexos.

O ponto de vista de Maria Dueñas é muito interessante, e foca como a guerra não é igual para todos, tem interesses conflitantes e muitas facetas. O TEMPO ENTRE COSTURAS transita elegantemente pelas festas e segredos dos poderosos, pelas mazelas daqueles que precisam simplesmente sobreviver, pelo clamor e sofrimento das vítimas da guerra. Começa com uma menina que aprende o ofício como assistente de costura no atelier da própria mãe, termina como uma espiã de disfarce perfeito, capaz de obter as mais privilegiadas informações.

O gostoso do livro, é que a personagem é uma pessoa relativamente simples (alguém como eu, ou você...) que, de extraordinário, só tem o seu talento de costureira. Isso torna a história interessante e curiosa, pois a personagem não tem um objetivo preciso, algum tipo de "meta" que pretendesse atingir, mas é uma daquelas pessoas que pequenos gestos e pequenas decisões, repercutem de forma inesperada e enredam situações inusitadas. E com isso, nós/leitores nunca sabemos como a história vai continuar!

E esta história dá muitas, MUITAS voltas!
Apesar de ser um texto volumoso, não há momento de tédio na leitura. São muitas histórias intercaladas, que mantém a curiosidade acesa todo o tempo, com o quê aconteceu com esta ou aquela pessoa. Houve momentos em que me perdi nos nomes dos personagens (alguns históricos, outros ficcionais), precisava voltar atrás e reler alguma coisa para identificar quem era quem e fazia o quê. As personalidades históricas foram construídos a partir de fontes citadas no anexo do romance. Mas foram os personagens ficcionais de que mais gostei, Dueñas tem o dom de criar tipos exóticos e verossímeis, pessoas que eu bem gostaria de conhecer e conviver! E porque não?





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