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domingo, 3 de agosto de 2014

A DINASTIA DE JESUS, de James D. Tabor

Por volta dos anos de 1990, foram feitas escavações arqueológicas até a Jerusalém destruída pelos romanos na tomada de 70 d.C. Tais descobertas, junto com as traduções dos Manuscritos do Mar Morto, deram novo alento e preciosas informações para a pesquisa do que se costuma chamar de "cristianismo primitivo", ou seja, a reconstituição histórica da época e da pregação messiânica de Jesus Cristo.

Vários livros já foram lançados sobre o assunto, nas últimas décadas. Li alguns, e destes o meu preferido, sem dúvida, é A DINASTIA DE JESUS, de James D. Talbor (leio em português, tradução de Ganesha Consultoria Editorial, edição de 2006 pela Ediouro Publicações).

O diferencial do livro de Tabor, é que a pesquisa parte do cisma teológico criado pelas visões do apóstolo Paulo, para então afastar-se de qualquer tentativa de explicar o fenômeno do cristianismo à luz da teologia cristã contemporânea. Com isso, o texto centraliza a verdade incômoda que dois milênios não conseguem esconder ou negar: Jesus era judeu, seus apóstolos e seguidores primitivos eram judeus, frequentavam a Sinagoga e seguiam a Torá.

Delimitados os parâmetros, o livro condensa a pesquisa em busca do grupo de judeus cristãos do primeiro século, aqueles que foram testemunhas presenciais das palavras de Jesus.

A pesquisa cruza informações de historiadores do primeiro século antes e depois de Cristo, para retraçar o perfil histórico da época: as construções monumentais de Herodes o Grande, a descendência para Herodes Antipas, a dominação romana na Palestina, quais cidades eram importantes na época, o registro das inúmeras insurreições dos profetas do apocalipse contemporâneos a Jesus.

Aos historiadores, Tabor acrescenta o que se aprendeu da tradução dos Manuscritos do Mar Morto. Assim, conhecemos os essênios, uma seita judaica radical e apocaliptica, que interpretando uma profecia retirou-se para o deserto - local por onde chegaria o Filho de Deus, anunciando uma nova era de vitórias e prosperidade, quando as doze tribos de Israel seriam novamente reunidas.

Por sua vez, as escavações em Jerusalém permitem uma visualização do cotidiano daquele povo, entendendo parte do seu cotidiano, rituais de sepultamento e a popularidade de determinados nomes na época (por exemplo, os vários túmulos de "jesus", pois o nome era comum e muito utilizado na época).

Para mim, muita coisa que já tinha ouvido falar, encontraram fonte e registro neste livro.
Tabor compara informações heréticas, registros históricos, pesquisas arqueológicas e os documentos do Mar Morto, para encontrar - ou não - a veracidade dos fatos.
Importante observar que o autor levou quarenta anos de pesquisa, para chegar à conclusões que expõe em A DINASTIA DE JESUS.

Em apertadíssima síntese, Tabor faz nascer do livro um Jesus "judeu" anunciando o cumprimento de uma antiga profecia, divulgada há um século pelo radical grupo essênio: de que dois messias, um da casa de Levi (sacerdotes, neste caso João Batista) e outro da casa de Davi (os reis, neste caso Jesus "Rei dos Judeus"). Juntos afirmam a vinda iminente do Filho de Deus, que desceria dos céus num carro de fogo, ladeado de dez mil anjos, para destruir os inimigos (romanos) e, enfim, reunir em paz e prosperidade as doze tribos de Israel.

Como todos sabemos, a profecia não se cumpriu. João Batista foi degolado, Jesus foi crucificado, e deus não desceu dos céus. Mas o quê aconteceu depois? Tabor reúne os indícios sobre como os judeus cristãos foram novamente reunidos em suas esperanças, por Tiago, irmão mais novo de Jesus, ajudado por Pedro. Reconstrói, assim, um período extremamente conturbado: de um lado, os romanos em perseguição aberta aos insurrectos e tentando destruir os descendentes da linhagem de Davi, concluída com a tomada de Jerusalém em 70 d.C. De outro, o judeu fariseu Paulo, antes perfeitamente identificado com os romanos que perseguiram Jesus, mas que década depois da crucificação, afirma ter visões do Messias e, aparentemente, quer se converter ao cristianismo. Pedindo permissão para pregar aos gentios, Paulo será responsável pelo primeiro grande cisma do cristianismo, desenvolvendo e divulgando uma teologia romanizada que se confronta com o cristianismo primitivo. Entre outras (e muitas) alterações, Paulo muda o lugar do "reino de deus", que deixa de ser em Israel e passa a existir apenas em uma dimensão "pós-morte/paraíso"; o próprio Jesus é divinizado e, de mensageiro, é alçado a ser o "deus renascido", e ainda desobriga os cristãos gentios e incentiva aos judeus que o seguem, para a desobediência às regras da Torá.

A partir de então, explica Tabor, os judeus cristão são metodicamente ignorados, ou perseguidos, até que a seita encontra a extinção. Aos judeus propriamente ditos, a pregação messiânica cristã havia falhado na sua verdade essencial, a afirmada vinda iminente do filho de Deus. Para os novos (e gentios) cristãos, o grupo de judeus cristianizado era ainda mais incômodo, pois eram as testemunhas da adulteração da verdade teológica, inclusive que Jesus era mesmo judeu praticante. Assim, perseguidos pelos romanos, desprezados pelos judeus e confrontados com os cristãos gentios, o cristianismo primitivo seguiu para a extinção e seus registros foram apagados da história oficial. Por isso, a reconstituição feita por Tabor registra, também, a extrema dificuldade em encontrar (ou deduzir) a verdade histórica e a trajetória dos primeiros cristãos.




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