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quinta-feira, 28 de março de 2013

ABANDONADA NO CAMPO DE CENTEIO, de Joyce Maynard


Os apreciadores de O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger que me desculpem... Mas, antes de me sacrificar e jogar tomates e ovos podres, compreendam: isso só me aconteceu três únicas vezes, na vida!

Era apenas uma adolescente que gostava de ler, mal saída das Reinações de Narizinho do Monteiro Lobato, quando papai me disse que precisava ler A Revolução dos Bichos, de George Orwell.  Acontece que ele só disse isso: que o livro era "importante", e que eu deveria ler.
Como uma boa filha obediente, emprestei o livro na biblioteca, e sem nenhum preparo prévio, eu li... oras... li uma historinha de criança cheia de bichinhos falantes, sem fazer idéia do porquê meu pai tinha dito que o tal livro era "importante"!
Tudo bem, claro que depois eu pesquisei, por nada deste mundo reconheceria a meu pai que li o livro e não entendi (jamais!), e então compreendi (vagamente, na época) o que era uma crítica, e o que era o sistema comunista, na visão do autor.

Muitos e muitos anos depois, adulta e apaixonada por livros, aconteceu de novo: foi a vez do meu sócio perguntar se já tinha lido O Apanhador no Campo de Centeio, de Salinger.
Inocentemente, respondi que "não", e ele abismado respondeu: mas é um clássico! Não acredito que não o leu!.
Imediatamente, pegou um volume que estava ali perto, e sem maiores explicações, o emprestou para que eu o lesse. O livro não tinha sequer uma orelhinha básica, para que tivesse ídéia do que se tratava. Mas, constrangida, comecei a ler assim mesmo. E sem saber o que lia, engoli página depois de página, de um texto que parecia jamais sair do lugar! Claro que, como da primeira vez, depois fui procurar porque o livro era "importante". Foi mais fácil de encontrar, pesquisei na internet. Mas desta feita, confesso que o mal estava perpetrado: continuei achando Holden Caulfield, o personagem adolescente protagonista do romance, o aborrecente narcisita mais chato que já tinha conhecido.

Por isso, ler ABANDONADA NO CAMPO DE CENTEIO, MEU CASO DE AMOR COM J. D. SALINGER, de Joyce Maynard, teve lá o seu gostinho de vingança!

Escrito por uma ex namorada de Salinger, revela algumas esquisitices do autor, bem como algum rancor do relacionamento frustrado. Respeitado como um livro autobiográfico, traz algumas fotos da autora, de sua família e da convivência com o escritor. O texto tem uma linguagem confessional, e Joyce não omite que escreveu, em parte, como uma forma de terapia, partilhando suas memórias como uma maneira de superá-las.

É como espiar a vida alheia pelo buraco de uma fechadura antiga. Olhando de perto ninguém é normal, e aqueles bafejados pela fama parecem ainda mais vulneráveis. O livro, escrito quase vinte anos depois do caso ocorrido, causou interesse porque Salinger é considerado um recluso, de quem pouco se conhece da intimidade. No fim, é a história de uma grande paixão... que não deu certo. Conta o livro que Joyce tinha dezoito anos, quando de seu relacionamento com um Salinger "cinquentão".

Mas, seja como for, minha humilde opinião é que, neste caso, a vida real pareceu mais divertida do que a ficção. E Salinger, ele mesmo um personagem "real" mais interessante, do quê aqueles que criou em sua imaginação.



 

Joyce, em foto de 1972.

Salinger aos 44 anos.



 

4 comentários:

  1. Você despertou meu interesse por ler o livro de Joyce Mainardi. Mesmo porque eu também, quando terminei de ler o livro de Salinger, me perguntei: e daí?

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    1. Ah, então fomos duas! Quando li o livro do Salinger, Apanhador no Campo de Centeio, me senti "obrigada" a ler críticas para entender a razão do dito romance ter feito tantos sucesso. Prá mim, não foi uma leitura que provocou empatia. Ate por isso, li com prazer o livro de Maynard: ela torna o autor, o período e o contexto da obra, nítidos e mais interessantes.

      Na minha opinião (de leiga absoluta, simples leitora), todo mundo que lê o Apanhador, tbém deveria ler Maynard! (rs)

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  2. Absoluta falta de capacidade de interpretação da autora do texto acima, no que diz respeito ao livro de Salinger, uma obra-prima sim. É deliberado - e isso é evidente - o protagonista do romance ser enfadonho, ou "chato", como disse, vulgarmente, a autora acima. O livro é uma forte crítica aos valores norte-americanos... Coitada da Joyce Maynard, eterna ex de Salinger. Só conseguiu alguma visibilidade ao falar do grande escritor. E olha que ela vive pulicando romances...

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    1. Bons tempos de faculdade, muita polêmica sobre a influência do "gostômetro", na crítica/análise e até mesmo teoria da(s) arte(s).

      A questão, sempre a mesma: quando alguém não GOSTA de uma obra, isso significa sua "incapacidade" de interpretação?


      Pessoalmente, defendo que não.

      O fato de uma obra ser considerada "obra prima" em seu gênero ou estilo, ou em comparação à produção de determinada época, não obriga ninguém a "GOSTAR" do trabalho que recebeu tal chancela.

      E posso reconhecer o gênio, mesmo em obras de que não gosto.

      Ambos concordamos: o protagonista do romance é um "adolescente enfadonho".
      Mas, logo a seguir, entra o "gostômetro".

      O romance de Salinger.tem seu mérito? Claro!
      Marcou época? Claro!
      Teve impacto social? Sem dúvida.

      Se eu/Elaine, "gostei" d'O Apanhador?
      Na medida do GOSTÔMETRO, infelizmente, não. A leitura foi importante, apenas, para conhecer o conteúdo de um romance famoso.


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